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A Criação (Gênesis 1-2) - parte H (Separação da Luz e das Trevas e a começo da contagem do tempo)



E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.

Consideremos as passagens da Criação correlatas, extraídas do Livro de Moisés e do Livro de Abraão, a seguir:

E eu, Deus, vi a luz; e vi que a luz era boa. E eu, Deus, separei a luz das trevas. E eu, Deus, chamei à luz Dia; e às trevas chamei Noite; e isso fiz pela palavra de meu poder e foi feito conforme eu disse; e foram a tarde e a manhã o primeiro dia. (Moisés 2:4-5)


E eles (os Deuses) tiveram consciência da luz, pois era brilhante; e eles separaram a luz, ou melhor, fizeram com que ela fosse separada das trevas. E os Deuses chamaram à luz Dia e às trevas chamaram Noite. E aconteceu que, do entardecer até a manhã chamaram noite; e da manhã até o entardecer chamaram dia; e isso foi o primeiro, ou seja, o princípio do que eles chamaram dia e noite.
(Abraão 4:4-5)

Os três versículos somados nos concedem um entendimento ampliado. Vejamos:

Separação entre Luz e Trevas - Deus separou a Luz das Trevas. Deus criou a luz, como já estudamos. A luz era boa, era perceptível, era vivificante. E essa luz é a luz de Cristo - a energia divina que dá vida, inteligência, movimento - e mantém a ordem no Cosmos.  Porém, quando Ele criou Luz, trevas surgiram.
Observação: "criar" e "surgir" aqui são termos imprecisos - relativos, na verdade - e mais simbólicos do que literais (considere o que explicamos sobre a palavra "criar" e a expressão "no principio", nos artigos anteriores).
Luz é energia, poder, influência, inteligência, discernimento. Essa palavra é também sinônimo do personagem Deus e de seu poder e obras: "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma" (I João 1:5) e "aquilo que é de Deus é luz" (D&C 50:24).
Néfi explicou que o "Senhor Deus não trabalha em trevas" (2 Néfi 26:23). Entretanto, Deus "conhece o que está em trevas" (Daniel 2:22) e "controlas e sujeitas o diabo e o escuro e tenebroso domínio de Seol" (D&C 121:4). Deus tem todo poder e compreende todas as coisas. As trevas não compreendem a luz (João 1:5), mas a "luz que resplandece nas trevas" compreende tudo - pois é a "luz da verdade" (D&C 88:6).
Neste Estado do Plano em que nos encontramos (período mortal), as trevas e a luz não se anulam e nem se repelem completamente e de imediato. "Aquele", diz a escritura, "que recebe luz e persevera em Deus recebe mais luz; e essa luz se torna mais e mais brilhante, até o dia perfeito." (D&C 50:24). Essa progressão só é possível por ainda não estarmos aperfeiçoados na luz. Porém, aquele que recebe luz e não persevera na luz se torna tenebroso: a luz acaba se convertendo em trevas (Mateus 6:23).
Cristo disse que havia um "príncipe das trevas, que é deste mundo" e que "ele tem poder sobre" nós, mas não sobre Ele (TJS João 14:30). Paulo afirmou que temos que lutar "contra os príncipes das trevas deste mundo, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais" (Efésios 6:12). Tudo isso nos mostra não apenas que Satanás e seus seguidores "amam as trevas mais que a luz, porque suas ações são más" (D&C:10:21) - mas que neste tempo trevas e luz estão em constante combate.
Todavia, quando um novo Estado advir, as Trevas serão completamente separadas da Luz. Satanás e seus seguidores irão para as Trevas Exteriores (D&C 133:73, e GEE "Trevas Exteriores"). Os demais serão tirados das trevas para um Reino de Luz ou de Glória, pelo poder de Cristo (Colossenses 1:13). A luz que receberemos após esta vida será graduada de acordo com o que merecermos e também pela graça de Deus.

Dia e Noite e a contagem do tempo - A luz física (que provém da energia espiritual e divina de Cristo) com todas as suas muitas nuances - até sua completa ausência (para nossos sentidos, pelo menos), chamada trevas, foi criada também por Deus (sendo as trevas uma criação indireta, como já expliquei).
Deus separou a Luz das Trevas. A luz, chamou Dia e as trevas, Noite.
Essa classificação bilateral antagônica - dia/noite - é vital para entendermos toda a Criação, já que todos os seis eventos criativos, chamados "dia", finalizam com achegada da "noite". Abraão acrescenta que "do entardecer até a manhã [os Deuses] chamaram noite; e da manhã até o entardecer chamaram dia". E isso indica, portanto, mais do que a criação física da luz: significa a criação do tempo, ou melhor: da contagem do tempo.
Não pretendo aqui discorrer da ideia do Tempo e Deus - um assunto deveras interessante, que será tratado oportunamente. Mas saliento que entre "no princípio" (de Gênesis 1:1) até "e foi a tarde e amanhã, do dia primeiro" (em Gênesis 1:5) - não foram mensurados dentro de uma realidade temporal, tal como conhecemos.
O Élder Neal A. Maxwell, um membro do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou: “Deus não vive na mesma dimensão de tempo em que vivemos. Não somos apenas limitados por nossa natureza finita (tanto experimental quanto intelectual), mas também por estarmos na dimensão do tempo. Além disso, como ‘todas as coisas estão presentes’ com Ele, Deus não prediz as coisas baseando-se apenas no passado. De um modo não muito claro para nós, Ele vê e não apenas prevê o futuro, porque todas as coisas estão presentes perante Ele”. [1] (Alma 40:8; D&C 130:4–7).
Quando Deus estabeleceu que a Noite finalizava o Dia, estabeleceu também uma forma de contagem do tempo. Evidentemente, a mesma seria refinada e aperfeiçoada para nosso bem-estar - com a criação (ou organização) de astros luminosos e com a ordem regular de nosso Planeta - leis gravitacionais, estações do ano, etc. Mas naquele ato de criação: "E Deus chamou à Luz Dia; e as trevas chamou Noite" há um marco - o estabelecimento de um ponto no qual passado, presente e futuro podem ser referenciados.
Não quero dizer que substancialmente não havia tempo. Entretanto, para Moisés, Abraão e todos que desfrutaram da visão celestial da Criação, só houve tempo (ou possibilidade de perceber o tempo) quando Deus disse: agora é noite, e terminamos o trabalho!
Ao estabelecer a Noite Deus também possibilitou que nós pudêssemos contar o tempo e o sentido de "princípio" em Gênesis 1:1 ganhou maior pertinência. O liame entre as obras criativas se formou nesta exata ocasião. Essa conexão emerge um dos axioma basilares da teologia: só há princípio, se há fim; só há dia, se há noite.
Lei explicou esse conceito: "é necessário que haja uma oposição em todas as coisas". "Se assim não fosse (...) não haveria retidão nem iniquidade, nem santidade nem miséria, nem bem nem mal. Portanto" concluiu ele "é preciso que todas as coisas sejam compostas em uma [ou seja, devem ter uma conexão]; pois se fossem um só corpo [ou seja, se fossem ou permanecessem isolados], deveriam permanecer como mortas, não tendo vida nem morte, nem corrupção nem incorrupção, nem felicidade nem miséria, nem sensibilidade nem insensibilidade." (2 Néfi 2:11)
O motivo pelo qual Deus decidiu criar a Terra em seis "dias" - e não em um, três, quatro ou setenta - não foram totalmente revelados. Não obstante, releva ordem.
Sobre a duração dos dias de Criação trataremos no artigo a seguir.

Pela palavra de meu poder. A criação se deu pelo poder da Palavra de Cristo, que ao emitir um comando criativo utilizou fé e Sacerdócio. Tal princípio será objeto de um artigo no futuro.

Consciência da Luz. A expressão "consciência da luz" em Abraão será debatida na ocasião que estudarmos seu relato.

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NOTAS

[1] Things As They Really Are, 1978, p. 29


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