Texto: Esdras Kutomi
O que define o caráter e personalidade de uma pessoa? Para
algumas pessoas, é tudo uma questão genética. Para outros, é uma questão do
meio em que uma pessoa nasceu. Bem, gêmeos idênticos podem apresentar uma
personalidade diferente, mesmo sendo criados de forma semelhante pelos mesmos
pais. Conheço casos de crianças que foram criados nos mais terríveis meios, em
que algumas foram presas, outras morreram, e outras deixaram tudo para trás e
possuem uma vida totalmente diferente (e melhor!) do que de onde vieram. Ainda
existem muitas questões sobre esse assunto. Mas para os membros de A Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, existe muito mais do que o mundo
conhece. Acreditamos que, mesmo antes do homem nascer (ou mulher), ele já
existia.
Nesse tópico, espero poder falar algumas coisas sobre nossa
identidade. E lembrem-se: eu não sou um porta-voz oficial da Igreja, portanto,
posso me enganar em algumas coisas!
Então, se o homem e a mulher existiam antes de nascerem, quando
é que tudo começou?
O Profeta Joseph Smith ensinou: “Estou referindo-me à
imortalidade do espírito do homem. Seria lógico dizer que a inteligência dos
espíritos é imortal mas que teve um princípio? A inteligência dos espíritos não
teve início nem terá fim. Isso é absolutamente lógico”. (History of the Church,
6:311.)
A respeito da origem de nosso espírito na vida pré-mortal, o Presidente
Marion G. Romney, que foi conselheiro na Primeira Presidência, ensinou: “Em sua
origem, o homem é um filho de Deus. Os espíritos dos homens ‘são filhos e
filhas gerados para Deus’. (D&C 76:24) Por meio desse processo de
nascimento, a inteligência que existia por si mesma foi organizada em seres
espirituais individuais”. (Conference Report, setembro-outubro de 1978, p. 18;
ou Ensign, novembro de 1978, p. 14.)
No manual Princípios do Evangelho, encontramos a seguinte
declaração: Deus não é somente nosso Governante e Criador; é também nosso Pai
Celestial. Todos os homens e as mulheres são literalmente filhos e filhas de
Deus. “O homem, como espírito, foi gerado e nascido de pais celestiais e criado
até a maturidade nas mansões eternas do Pai, antes de vir à Terra para receber
um corpo físico” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith,
1998, p. 335).
Não é de se admirar que algumas pessoas chamem todos de “irmãos”
e “irmãs”. Devido esse conhecimento, sabemos que todos nós fazemos parte dessa
família, da família de Deus. Além disso, de forma semelhante ao que os pais
fazem com seus filhos, criando-os, nutrindo, e ensinando-os até poderem cuidar
de si mesmos, assim fomos cuidados por pais celestiais amorosos e perfeitos.
Então, que papel teve Deus, nosso Pai, nisso tudo?
O Profeta Joseph Smith declarou: “O próprio Deus, vendo que
estava no meio de espíritos e glória, por ser mais inteligente, considerou
conveniente instituir leis pelas quais os demais teriam o privilégio de
progredir como Ele próprio. O relacionamento que tivemos com Deus coloca-nos em
condições de progredirmos em conhecimento. Ele tem o poder de instituir leis
para instruir as inteligências mais fracas, de modo que possam ser exaltadas
com Ele, recebendo glória sobre glória e todo o conhecimento, poder, glória e
inteligência necessários para salvá-los no mundo dos espíritos”. (History of
the Church, 6:312.)
Assim como muitos filhos pequenos admiram, amam e desejam se
tornar como seus pais, nós também desejávamos nos tornar como nossos pais
celestiais. Existem limites para o crescimento de filhos que, mesmo adultos,
vivem e continuam dependentes de seus pais. De forma semelhante, tínhamos
limitações em nosso crescimento, e não poderíamos nos tornar como nossos pais
celestes se não passássemos por certas experiências.
O Presidente Joseph Fielding Smith ensinou: “Na vida anterior
[pré-mortal], éramos espíritos. A fim de podermos progredir e por fim
atingirmos a meta da perfeição, foi-nos dado conhecer que receberíamos um tabernáculo
de carne e ossos e teríamos que passar pela mortalidade, onde seríamos testados
e provados, para ver se, pela experiência, nos prepararíamos para a exaltação”.
Ele declarou ainda que quando nosso Pai Celestial apresentou Seu plano a Seus
filhos em um conselho no céu, “a ideia de passar pela mortalidade e participar
de todas as vicissitudes [dificuldades] da vida terrena, na qual ganhariam
experiência através de sofrimento, dor, tristeza, tentação e aflição, bem como
dos prazeres da vida nesta existência terrena, e depois, se fossem fiéis,
passar pela ressurreição para a vida eterna no reino de Deus, para serem
semelhantes a Ele, encheu-os de espírito de regozijo, e eles ‘rejubilavam’”.
[Jó 38:1–7]” (Doutrinas de Salvação, 1: 63–64) (Presente também no manual do
instituto do curso Pérola de Grande Valor, página 12)
Portanto, quando falamos que Deus possui um grande plano para
nós, é para nos proporcionar essas grandes bençãos. O Senhor disse: “Pois eis
que esta é minha obra e minha glória: Levar a efeito a imortalidade e vida
eterna do homem.” (Moisés 1:39)
Nossa identidade começou a ser formada então antes de nascermos?
A Primeira Presidência e o Quórum dos Doze Apóstolos afirmaram:
“Todos os seres humanos — homem e mulher — foram criados à imagem de Deus. Cada
indivíduo é um filho (ou filha) gerado em espírito por pais celestiais que o
amam e, como tal, possui natureza e destino divinos. O sexo (masculino ou
feminino) é uma característica essencial da identidade e do propósito
pré-mortal, mortal e eterno de cada um”. (“A Família: Proclamação ao Mundo”, A
Liahona, outubro de 1998, p. 24.)
Nossa sexualidade é algo inerente e herdado da vida pré-mortal.
Nosso gênero antes de nascermos é o mesmo com o qual nascemos. Um corpo pode
ser imperfeito (o que faz parte da vida mortal), mas não existe engano sobre
nossa sexualidade.
Algumas outras coisas de nossa própria identidade são fruto de
nossas próprias ações antes de nascermos nesta Terra.
O Élder L. Tom Perry, que foi do Quórum dos Doze Apóstolos,
disse: “No mundo pré-mortal, aprendemos o plano de redenção do Pai e
desfrutamos do arbítrio moral. Por meio da utilização desse arbítrio, os homens
e as mulheres desenvolveram diversos apetites, talentos e capacidades, ao longo
do tempo, e nenhum espírito permaneceu igual ao que era”. (Give Heed unto the
Word of the Lord, serão do SEI para jovens adultos, 2 de maio de 1999, p. 2)
Sim, todos nós já podíamos, em determinada medida, tomar nossas
decisões e fazer escolhas.
O Élder Bruce R. McConkie, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse:
“O espírito de todos os homens, enquanto estava na Presença Eterna, desenvolveu
aptidões, talentos, capacidade e habilidades de toda espécie, tipo e grau.
Durante o longo tempo de vida que passamos lá, surgiu uma infinita variedade de
talentos e habilidades. À medida que as eras se passaram, nunca houve dois
espíritos iguais. Mozart tornou-se músico; Einstein concentrou seu interesse na
matemática; Michelângelo voltou sua atenção para a pintura. (…) Abraão e Moisés
e todos os profetas buscaram e adquiriram talento para a espiritualidade. (…)
Quando passamos da pré-existência para a mortalidade, trouxemos conosco os
traços de caráter e talentos que desenvolvemos lá. É verdade que esquecemos o
que aconteceu antes porque estamos sendo testados aqui, mas as capacidades e
habilidades que possuíamos ainda residem dentro de nós. Mozart ainda é músico;
Einstein mantém suas habilidades matemáticas; Michelângelo, seu talento
artístico; Abraão, Moisés e os profetas, seu talento e habilidade espirituais.
(…) E todos os homens, com sua infinita variedade de talentos e personalidades,
escolhem o curso de progresso que terão a partir de onde pararam quando
deixaram a esfera celeste.” (The Mortal Messiah, 4 vols., 1979–1981, vol. 1,
pp. 23, 25)
Em outro momento, o Élder Bruce R. McConkie, que na época era
dos Setenta, disse: “Nessa vida anterior, essa existência pré-mortal, essa
pré-existência, desenvolvemos diversas capacidades e talentos. Alguns se
desenvolveram em determinado campo, e outros em outro. O mais importante de
todos os campos foi o campo da espiritualidade: A capacidade, o talento, a
habilidade de reconhecer a verdade”. (Making
Our Calling and Election Sure, Brigham Young University Speeches of the
Year, 25 de março de 1969, pp. 5–6)
“A preexistência não é um lugar remoto e misterioso. Passaram-se
poucos anos desde que fomos afastados da Presença Eterna, daquele de quem somos
filhos e em cuja casa habitamos.
Sabemos que tínhamos lá amigos e companheiros. Sabemos que fomos
instruídos, treinados e ensinados no mais perfeito sistema educacional jamais
projetado, e que pela obediência às suas leis eternas, desenvolvemos ao
infinito nossos talentos.
Quando chegamos à mortalidade, trazemos conosco os talentos,
capacidade e habilidade adquiridos pela obediência à lei, em nossa existência
anterior.” (Bruce R. McConKie, em Discursos da Conferencia Geral, abril de
1974, p. 181.)
Você já nasceu único. E diferente. Ninguém é igual. Para aqueles
que tiverem filhos, cada um virá diferente. Nem por isso um será menos
importante ou amado que outro.
Como obedecer aos mandamentos antes de vivermos nos afetou?
Eu particularmente gosto de comparar algumas coisas desse grande
plano a fatos cotidianos da criação de uma criança pelos seus pais. Vou adicionar
duas pequenas parábolas modernas para explicar alguns princípios.
A parábola do brócolis:
Havia uma criança que não queria comer as verduras em seu prato
de comida. Naquele dia, brócolis! Sua paciente mãe, então, tentou convencer seu
pequeno filho a comer o brócolis, dizendo que se o fizesse, poderia comer a
sobremesa, um delicioso pudim. Então a criança comeu. Por que a mãe pediu ao
filho que comece brócolis? Ela se tornaria mais saudável ou cresceria mais
forte se comece aquilo? O maior beneficiado foi a criança. E não somente isso,
mas a criança ainda ganharia uma sobremesa! De forma semelhante, os mandamentos
de Deus, por si só, são para nosso bem. Além de guardarmos mandamentos que nos
farão bem, nos são prometidas bençãos! Recebemos esses mandamentos, porque
nossos pais celestiais nos amam, e querem nosso melhor.
Todos os mandamentos que recebemos antes dessa vida fizeram uma
diferença em nós. Todos os mandamentos que buscamos viver nessa vida, agora,
também são para nosso bem.
A parábola da prova:
Uma pessoa tinha uma prova importante para fazer. Ela então se
esforçou e estudou. Quando chegou a hora de fazer a prova, estava mais
preparada. Mesmo assim continuou se esforçando durante a prova, dando seu
melhor e esforçando-se durante a prova.
Tal qual a preparação de uma prova, vejo nossa vida pré-mortal
como uma fase importante de nosso desenvolvimento, e uma preparação para essa
vida, que é uma provação. E tal qual é exigido esforço na hora da prova, mesmo
que o tempo da prova seja menor do que o tempo de preparação, precisamos nos
esforçar nessa vida para continuar a guardar os mandamentos do Senhor.
Nossa busca da vida eterna teve início na existência pré-mortal.
“A eleição e preordenação baseiam-se na preexistência. Estas
doutrinas só podem ser entendidas considerando as seguintes verdades eternas:
1. Que Deus é nosso Pai, literal e real, no pleno sentido da
palavra, e que somos Seus filhos, Sua progênie espiritual;
2. Que vivemos com nosso Pai Celestial na vida pré-mortal
durante um período de tempo imensuravelmente longo, época em que todos nós
estivemos sujeitos a Suas leis e fomos investidos por Ele do livre-arbítrio;
3. Que, em consequência disso, desenvolvemos uma infinita
variedade e graus de talentos e aptidões; e
4. Que, ao nascermos nesta provação mortal, trazemos conosco
talentos e capacidades adquiridas na vida pré-mortal. /I (Bmce R. McConkie, /
Are We Foreordained to Be Exalted? / Instructor, fevereiro de 1969, p. 40.)
Eu sei que muitas das coisas que algumas pessoas lerem aqui não
são ideias comuns por aí. Muita coisa ainda não foi explicada. Porém, se algo,
mesmo assim, não lhe for tão estranho, e parecer de certo modo familiar, creio
que seja bom ponderar e começar a ter uma ideia de quem você é, e de sua
identidade como um filho ou filha de Deus.
Para terminar, coloco
uma parte presente no segundo capítulo do manual Princípios do Evangelho:
“Tínhamos diferentes talentos e habilidades e fomos chamados
para fazer coisas diferentes na Terra. Podemos saber mais sobre nossas
“possibilidades eternas” quando recebemos nossa bênção patriarcal” (ver Thomas
S. Monson, Conference Report, outubro de 1986, p. 82; ou Ensign, novembro de
1986, p. 66).
Continua
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