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Falibilidade dos Profetas: eles erram? Se sim, como saber se estão transmitindo a palavra do Senhor?

Os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias creem "na mesma organização que existia na Igreja Primitiva, isto é, apóstolos, profetas, pastores, mestres,evangelistas, etc." (Regra de Fé 6). E também creem "que um homem deve ser chamado por Deus, por profecia, e pela imposição de mãos, por quem possua autoridade, para pregar o Evangelho e administrar as suas ordenanças." (Regra de Fé 5). Veja que os santos dos últimos dias (mórmons) acreditam em profetas e apóstolos (como havia na Igreja Primitiva) - e que tais são homens chamados por Deus.


PROFETAS SÃO HOMENS

Ora, comecemos por ai: homens. Se eles são homens, por dedução lógica, são mortais e falíveis. Com exceção de Jesus Cristo, o único ser que viveu na Terra sem cometer pecado, "todos [pecam] e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23).

Não é incomum nas escrituras verificar que homens santos, profetas e apóstolos erraram. Balaão, um profeta, caiu em desgraça ao permitir que o "galardão da injustiça" (2 Pedro 2:15) entrasse em seu coração - e devido "aquele lucro que corrompe a alma" (Mosias 29:40) acabou pecando.

Jonas fugiu de sua missão (Jonas 1); Judas, que estava na visão de Leí entre os "doze [que] seguiam [Jesus Cristo, cujo] brilho excedia ao das estrelas no firmamento" (1 Néfi 1:10), traiu o Salvador (Lucas 22:48); Pedro negou o Salvador três vezes (Marcos 14:72); Paulo e Barnabé tiveram "não pequena dissensão e contenda" (Atos 15:2); Leí murmurou (1 Néfi 16:20); Joseph Smith foi diversas vezes repreendido pelo Senhor em Doutrina e Convênios (por exemplo: D&C 10).

Os profetas e homens santos não são perfeitos, eles erram. Entretanto, isso não é desculpa para descremos na obra de Deus - e em seus servos escolhidos. A lições contidas nas escrituras e na História da Igreja são suficientemente abundantes para verificarmos quão tolo é afastar-se do Senhor e Sua Igreja, e de Seus profetas, devido a erros de homem.

Joseph Smith contou certa vez: "Nesta manhã, fui apresentado a um homem do leste. Depois de ouvir meu nome, ele comentou que eu nada mais era que um homem, indicando com isso que havia suposto que uma pessoa a quem o Senhor consideraria digno de revelar Sua vontade precisaria ser mais do que um homem. Parecia ter-se esquecido das palavras proferidas por Tiago, que [Elias, o profeta] era um homem sujeito a paixões como nós, mas tinha tal poder de Deus que, em resposta a suas orações, Ele fechou os céus para que não chovesse pelo período de três anos e seis meses; e novamente, em resposta a sua oração, os céus fizeram chover e a terra frutificou [ver Tiago 5:17–18]. De fato, tal é a escuridão e a ignorância desta geração, a ponto de considerarem incrível que um homem comum tenha qualquer [interação] com seu Criador” (History of the Church, volume 2, p. 302.)


QUANDO ACHAMOS QUE O PROFETA ERROU

Moisés casou-se com uma egípcia. Aarão e Miriã ficaram indignados com isso. Eles se rebelaram contra o profeta de Deus. O Senhor repreendeu Aarão e Miriã dizendo: "E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonho falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e claramente, e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés? Assim, a ira do Senhor contra eles se acendeu (...)" (Números 12:6-9)

Essa passagem deixa claro diversas verdades, mas a que quero ressaltar é: às vezes a atitude de um profeta pode parecer-nos errônea, a tal ponto que o critiquemos e até nos rebelemos. Mas não devemos fazê-lo. Primeiro porque a falha que vemos no profeta pode não ser verdadeiramente uma falha, mas uma deficiência ou imaturidade em nossa própria percepção espiritual. Segundo, mesmo que o profeta erre, a repreensão virá de cima, não dos lados ou de baixo.

Néfi é um grande exemplo disso. Quando seu pai Leí começou a murmurar ele não repreendeu seu pai, que era o profeta, mas sim seus irmãos: "E aconteceu que eu, Néfi, falei muito a meus irmãos, porque tornaram a endurecer o coração, a ponto de queixarem-se do Senhor seu Deus" (1 Néfi 16:22). Mais adiante lemos que Leí se humilhou e "ouviu a voz do Senhor; e ele foi realmente repreendido por ter murmurado contra o Senhor, de tal forma que mergulhou em profundo pesar" (1 Néfi 16:25).

O Senhor também admoestou a Igreja: "Há os que, sem razão, procuraram falhas nele [o Profeta Joseph Smith]; Contudo, ele pecou; mas em verdade vos digo: Eu, o Senhor, perdoo os pecados daqueles que confessam seus pecados perante mim e pedem perdão, se não pecaram para morte. Meus discípulos, nos dias antigos, procuraram pretextos uns contra os outros e em seu coração não se perdoaram; e por esse mal foram afligidos e severamente repreendidos. Portanto, digo-vos que vos deveis perdoar uns aos outros; pois aquele que não perdoa a seu irmão suas ofensas está em condenação diante do Senhor; pois nele permanece o pecado maior." (D&C 64:6-9)

O Profeta Joseph Smith era jovial e brincalhão, tinha pouco estudo formal quando foi escolhido como profeta. Muitos o acusaram, mas ele disse: "Eu nunca disse que era perfeito, mas não há erros nas revelações que ensinei" (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, pg. 547).

Quando o Livro de Mandamentos (que se tornaria Doutrina e Convênios) estava para ser publicado alguns sugeriram que se melhorasse a linguagem da revelação. Em conseqüência disso, Joseph recebeu a revelação que hoje está em Doutrina e Convênios 67, na qual o Senhor desafiou aqueles homens que haviam achado falhas nas revelações a produzirem algo ao menos igual ao que eles considerassem ser a pior das revelações recebidas pelo Profeta. (Ver D&C 67:6–8.)

O Profeta Joseph Smith escreveu:“Depois de D&C 67 ter sido recebida, William E. M’Lellin [McLellin], na condição de homem mais sábio (em sua própria avaliação), tendo mais conhecimento do que percepção, tentou escrever um mandamento semelhante a um dos menores concedidos pelo Senhor, mas não conseguiu. Era uma terrível responsabilidade escrever em nome do Senhor. Os élderes e todos os presentes que presenciaram essa vã tentativa de um homem imitar a linguagem de Jesus Cristo renovaram sua fé na plenitude do evangelho e na veracidade dos mandamentos e revelações que o Senhor havia concedido à Igreja por meu intermédio. E os élderes expressaram a disposição de prestar testemunho de sua veracidade a todo o mundo”(History of the Church, 1:226).

O Presidente J. Reuben Clark ensinou: "Há muitas partes em que as Escrituras não são suficientemente


COMO TER CERTEZA QUE O PROFETA FALA EM NOME DO SENHOR?

Quando os profetas falam como profetas, falam com a mesma clareza de Néfi: "E agora, meus irmãos, falei com clareza, de modo que não podeis errar" (2 Néfi 25:20); "Mas eis que continuo com a minha própria profecia, de acordo com a minha clareza, na qual sei que nenhum homem pode errar" (2 Néfi 25:7).

Um profeta verdadeiro é chamado por Deus, conforme explicado acima, por profecia e revelação, e por imposição de mãos por quem já antes recebera autoridade. Ele tem direito a manifestações especiais, como Moisés, e pode falar me nome de Deus para o mundo todo.

Sabemos que um profeta é chamado por Deus pelos seus frutos (Mateus 7:20). Parte desses frutos se relaciona ao testemunho de Cristo e a advertência para que nos arrependamos e O sigamos.

Devemos ter cuidado para não ser como os nefitas: "[Se] aparece entre vós um profeta e declara-vos a palavra do Senhor, a qual testifica vossos pecados e iniquidades, revoltai-vos contra ele e o expulsais e procurais todos os meios para destruí-lo; sim, dizeis que é um falso profeta e que ele é um pecador e que é do diabo, porque ele testifica que vossas obras são más. Mas eis que se um homem aparecer entre vós e disser: Fazei isto e não há iniquidade; fazei aquilo e não sofrereis; sim, ele dirá: Andai segundo o orgulho de vosso próprio coração; sim, andai segundo o orgulho de vossos olhos e fazei tudo quanto vosso coração desejar — e se um homem aparecer entre vós e disser isto, vós o recebereis e direis que ele é um profeta."(Helamã 13:26-27)

Podemos receber um testemunho, pelo poder do Espírito Santo, do profeta que Deus escolheu, orando a respeito (Morôni 10:5).

O Senhor disse que "tudo que [seus servos] disserem, quando movidos pelo Espírito Santo, será escritura, será a vontade do Senhor, será a mente do Senhor, será a palavra do Senhor, será a voz do Senhor e o poder de Deus para a salvação." (D&C 68:4)

Ele também garantiu: "O que eu, o Senhor, disse está dito e não me desculpo; e ainda que passem os céus e a Terra,minha palavra não passará, mas será toda cumprida, seja pela minha própria voz ou pela voz de meus servos, é o mesmo." (D&C 1:38).

Ele nos ordenou ainda: "Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e prosperareis." (2 Crônicas 20:20).

O Senhor chamou atalaias para nos avisar do perigo. Seus profetas são homens comuns, mas com chamados extraordinários. Falando este respeito dos profetas,apóstolos e das Autoridades Gerais da Igreja, o Elder Bruce R. McConkie, escreveu:

“Algumas Autoridades Gerais recebem poder para fazer certas coisas, e outras, para fazer outras. Todos estamos sujeitos à rigorosa disciplina que o Senhor sempre impõe a Seus santos e aos que presidem os Seus santos. Os cargos que eles ocupam são elevados e exaltados, mas as pessoas que os ocupam são homens humildes como seus irmãos na Igreja. Os membros da Igreja são tão bem qualificados e treinados que muitos poderiam servir eficazmente em quase todos os cargos proeminente da Igreja, desde que fossem chamados, apoiados e designados para isso” (Mormon Doctrine, 2ª edição, 1966, p. 309.)

O Elder McConkie também disse: “Com toda a sua inspiração e grandiosidade, os profetas são homens mortais com imperfeições comuns à humanidade em geral. Eles têm suas opiniões e preconceitos e precisam muitas vezes resolver seus problemas com inspiração. Joseph Smith relatou que ‘[havia conversado] com um irmão e uma irmã de Michigan, que achavam que “um profeta sempre é um profeta”, mas eu lhes disse que um profeta somente era profeta quando agia como tal’” (Mormon Doctrine, p. 608).

Podemos saber que o profeta esta falando pelo poder do Espírito de Deus se desfrutarmos este mesmo Espírito. Os requisitos para termos sempre o Espírito conosco são repetidos na oração sacramental: guardar os mandamentos, desejar tomar sobre nós o nome de Cristo e lembrar sempre Dele. A oração da fé e as obas obras nos enchem do Espírito, de modo a podermos discernir a verdade do erro.


OS DOZE E A PRIMEIRA PRESIDÊNCIA

O Presidente J. Reuben Clark, que serviu na Primeira Presidência da Igreja, ensinou: “Algumas das Autoridades Gerais [os Apóstolos] receberam um chamado especial; elas têm um dom especial; foram apoiadas como profetas, videntes e reveladores, o que lhes concede um dom espiritual especial relacionado à função de ensinar o povo. Têm o direito, o poder e a autoridade de declarar a mente e a vontade de Deus a Seu povo, e são subordinadas ao poder e autoridade supremos do Presidente da Igreja. As outras Autoridades Gerais não receberam esse dom espiritual especial (…)”. A limitação resultante de tal fato “[aplica-se] a todos os outros líderes e membros da Igreja, pois nenhum deles está espiritualmente investido como profeta, vidente e revelador”. (“When Are Church Leader’s Words Entitled to Claim of Scripture?“ Church News, 31 de julho de 1954, pp. 9–10.)

Além disso, o Presidente Clark disse que, dentre os Doze e a Presidência, “somente o Presidente da Igreja, o Sumo Sacerdote Presidente, é apoiado como Profeta, Vidente e Revelador para a Igreja, e só ele tem o direito de receber revelações para a Igreja, sejam elas novas ou ratificadoras, ou de dar interpretações oficiais autorizadas da Igreja para as escrituras, ou alterar de qualquer maneira as doutrinas da Igreja” (Church News, 31 de julho de 1954, pp. 9–10)

O Presidente Gordon B. Hinckley disse às Autoridades Gerais certa vez "que apesar de sermos homens comuns temos um ministério sagrado. Nosso consolo está no que o Senhor disse aos Doze Apóstolos originais: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei (…)” (João 15:16, "Os Doze Apóstolos", A Liahona, Setembro de 2005)


O Presidente J. Reuben Clark ensinou:

"Há muitas partes em que as escrituras não são suficientemente clara podendo ser interpretada de diversas maneiras; há muitas doutrinas, “dogmas” como o Senhor as chamou, que não foram oficialmente definidas e declaradas. É na consideração e discussão dessas escrituras e doutrinas que surgem as oportunidades para diferentes pontos de vista quanto ao sentido e alcance. Em vista do princípio fundamental a pouco enunciado quanto à posição do Presidente da Igreja, os demais portadores do sacerdócio, possuam dotação espiritual especial ou não, deverão ser cuidadosos em suas expressões sobre interpretação das escrituras e doutrinas. Devem agir e ensinar sob o supremo poder e autoridade do Presidente da Igreja. Seria o maior infortúnio se isto não fosse observado pelos portadores desta dotação espiritual especial, diversa do presidente da Igreja. Algumas vezes no passado eles falaram “fora da vez” por assim dizer. Além do mais, consta que às vezes mesmo aqueles que não são Autoridades Gerais, tem declarado os seus próprios pontos de vista com relação a vários assuntos sobre os quais não foi declarado o ponto de vista oficial pelo porta-voz do Senhor, às vezes com uma certeza tal que poderia desviar o não informado e incauto.

Houve ocasiões raríssimas em que até mesmo o presidente da Igreja em suas pregações ensinamentos não estava “inspirado pelo Espírito Santo”. Vocês se lembram que o Profeta Joseph declarou que um profeta não é sempre um profeta.

Sobre este ponto, corre uma simples história, e meu pai me contou quando eu era menino (....) que ilustra a questão. Essa história ocorreu durante É excitante incidente da aproximação do Exército de Johnston. Brigham Young pregou ao povo, numa reunião matinal, um sermão vibrante que desafiava o exército que se aproximava, declarando sua intenção de enfrentá-lo e fazê-lo retroceder. Na reunião vespertina ele se levantou e disse que Brigham Young tinha falado durante a manhã, mas o Senhor iria falar agora, pronunciando então o discurso, cujo teor era completamente ao contrário do da manhã.

(...)

Como poderá a Igreja saber quando (...) os anunciadores foram “inspirados pelo Espírito Santo”? A Igreja saberá pelo testemunho do Espírito Santo no corpo de membros, e os irmãos ao declararem seus pontos de vista foram “inspirados pelo Espírito Santo”, e no devido tempo esse conhecimento se tornará manifesto.” (Curso do Sacerdócio de Melquisedeque - Imortalidade e Vida Eterna, Volume 2, 1983, pg. 201-202)
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O Presidente Boyd K. Packer disse: "Nessa revelação [de D&C 124], há uma promessa maravilhosa que muitas vezes passa despercebida: “E se meu povo der ouvidos a minha voz e à voz de meus servos que designei para guiar meu povo, eis que em verdade vos digo que não serão removidos de seu lugar”.

Lembrem-se dessa promessa; apeguem-se a ela, pois traz grande consolo aos que tentam manter a família unida numa sociedade cada vez mais indiferente e até mesmo hostil aos padrões essenciais para uma família feliz.

A promessa reitera o que o Senhor disse à multidão: “Bem-aventurados sois vós, se derdes ouvidos às palavras destes doze que escolhi dentre vós para exercer o ministério junto a vós e ser vossos servos (…)”. Repito a promessa de que os que atenderem à voz desses homens que o Senhor escolheu “não serão removidos de seu lugar.” Mas a promessa foi seguida de uma admoestação: “Mas se não derem ouvidos a minha voz nem à voz desses homens que designei, não serão abençoados (…)”. ("Os Doze Apóstolos", A Liahona, Setembro de 2005)

O Senhor nunca permitirá que o Presidente da Igreja nos conduza de maneira errada. O Presidente Ezra Taft Benson disse: "O profeta nunca fará a Igreja se desviar.".

O Presidente Wilford Woodruff afirmou: “Este é um assunto no qual já meditei muito e no qual já adquiri algum conhecimento útil ao longo de minha experiência ao observar o comportamento humano. E nunca em minha vida presenciei exceções à seguinte realidade: quando os homens agem contra os conselhos de seus líderes, (…) sempre acabam por envolver-se em problemas sérios e sofrem grandes perdas.

Digo a Israel: O Senhor jamais permitirá que eu ou qualquer outro homem que presida esta Igreja vos desvie do caminho verdadeiro. Isso não faz parte do plano. Não é a intenção de Deus. Se eu tentasse fazê-lo, o Senhor me destituiria.” (ver Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Wilford Woodruff, 2004, p. 203).


DOUTRINA OFICIAL E PALAVRAS ISOLADAS DE UM PROFETA.

Alguns membros da Igreja sustentam que as palavras isoladas de um dos Doze ou mesmo do Presidente da Igreja, ditas em Conferências de Estaca, Serões ou livros, não constituem revelação e doutrina da Igreja. Por um lado eles estão certos, visto que o profeta pode ter dito aquilo antes mesmo de ter se tornado um profeta, ou aconselhado um publico especifico dentro de determinadas circunstancias, que não se aplicarão a todos indistintamente.

Algumas coisas que os profetas falam e fazem às vezes são mal interpretadas. O Élder Russell M. Nelson contou algo que ilustra este ponto. Ele disse: “Eu era consultor do governo dos Estados Unidos em seu Centro Nacional de Controle de Doenças em Atlanta, Geórgia. Certa vez, enquanto esperava o táxi que me levaria ao aeroporto depois das reuniões, estiquei-me no gramado a fim de desfrutar um pouco do calor do sol antes de retornar ao inverno de Utah. Mais tarde, recebi pelo correio uma fotografia, tirada com a ajuda de uma lente de longo alcance, que capturou aquele momento de descanso no gramado. A legenda da foto era: ‘Consultor Governamental no Centro Nacional’. A imagem era verdadeira, a legenda era verdadeira, mas a verdade fora usada para promover uma impressão falsa”. (Russell M. Nelson, “Truth—and More,” [Verdade — e Mais] Ensign, janeiro de 1986, p. 71).

Muitas pessoas que se deparam com citações dos lideres da Igreja - especialmente de líderes antigos, como Brigham Young, Spcer W. Kimball e Joseph Fielding Smith - não tem a preocupação de pesquisar o contexto histórico e cultural para corretamente interpretar o texto, e julgam que o profeta teria errado.

Quando nos deparamos com textos antigos precisamos levar em consideração que a "exatidão de algumas transcrições [antigas] foi questionada. Não havia tecnologia e processos modernos para verificar a exatidão das transcrições, e alguns erros importantes foram documentados. O Journal of Discourses [por exemplo,] inclui ensinamentos interessantes e esclarecedores proferidos por antigos líderes da Igreja; contudo, por si só, não é uma fonte autorizada de doutrina da Igreja. (Tópicos do Evangelho "Jornal of Discourses").

Dito isto há realmente uma diferença no que se considera oficial, do que não é oficial. O oficial pode ser identificado com o logo oficial da Igreja, ou a assinatura dos Doze e/ou da Primeira Presidência. As posições oficiais são revestidas de muita ponderação, oração e discussão entre a liderança geral da Igreja. As obras-padrão são todas escrituras oficiais, bem como as doutrinas ensinadas nas Conferências Gerais da Igreja.

A preocupação de separar o que é oficial do que não é, não tem muita relevância no âmbito pessoal. Pois as revelações de Deus, por exemplo, dadas por todos os Doze ou por apenas um deles são todas revelações divinas. Neste aspecto, o que importa é a Palavra de Deus - que será reconhecida por nós, se tivermos o Espírito de Deus.

Alguns inutilmente classificam a palavra de Deus dizendo: isto é mandamento, isto é conselho - e por ser conselho não precisa ser aplicado. Outros: o que vem deste apóstolo não creio, o que vem deste outro, creio. Sobre um raciocínio semelhante Paulo escreveu: "E digo isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? (...) Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Porque, como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. (...) Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; Para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual nos foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; Para que, como está escrito: Aquele que se gloria,glorie-se no Senhor." (I Coríntios 1)

Assim aceitamos toda boa palavra de Deus, venha de um ou de todos os profetas. É verdade que, devido a Lei de Testemunhas (II Coríntios 13:1), Deus sempre envia mais de um testemunho sobre uma verdade. Assim, as frequentes doutrinas e princípios repetidos pelos profetas devem nos levar a crer que Deus esta falando.


NÃO CONDENAR AS COISAS DE DEUS.

Néfi disse: "E agora, se erro, também os antigos erraram; não que outros homens me sirvam de desculpa, mas por causa da fraqueza que há em mim, segundo a carne, quero desculpar-me." (1 Néfi 19:6)

O Elder Neil L. Andersen afirmou: "Os líderes da Igreja são homens sinceros, porém imperfeitos. Lembrem-se das palavras de Morôni: “Não me condeneis, em virtude de minha imperfeição, nem a meu pai (…); mas dai graças a Deus por ele vos ter manifestado nossas imperfeições, para que aprendais a ser mais sábios do que nós fomos” ("Prova da Vossa Fé", A Liahona Novembro de
O Presidente Dieter F. Uchtdorf disse: "[Para] ser perfeitamente honesto, houve ocasiões em que membros ou líderes da Igreja simplesmente cometeram erros. Talvez tenha havido algo que foi dito ou feito e que não estava em harmonia com nossos valores, princípios, ou nossa doutrina.

Suponho que a Igreja seria perfeita somente se nela só houvesse pessoas perfeitas. Deus é perfeito, e Sua doutrina é pura. Mas ele trabalha por nosso intermédio — Seus filhos imperfeitos — e as pessoas imperfeitas cometem erros. Na página de rosto do Livro de Mórmon, lemos: “E agora, se há falhas, são erros dos homens; não condeneis portanto as coisas de Deus, para que sejais declarados sem mancha no tribunal de Cristo”.

Esse é o modo como sempre foi e como sempre será até o dia perfeito em que o próprio Cristo reinará pessoalmente na Terra.

É triste que alguns tenham tropeçado por causa dos erros cometidos pelos homens. Mas a despeito disso, a verdade eterna do evangelho restaurado encontrado n’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não foi maculada, diminuída ou destruída.

Como apóstolo do Senhor Jesus Cristo e como alguém que viu pessoalmente os conselhos e os procedimentos desta Igreja, presto solene testemunho de que nenhuma decisão importante que afete esta Igreja ou seus membros jamais é tomada sem buscar sinceramente a inspiração, orientação e aprovação de nosso Pai Eterno. Esta é a Igreja de Jesus Cristo. Deus não permitirá que Sua Igreja seja desviada de seu caminho traçado ou que falhe em cumprir seu destino divino." ("Venham, Juntem-se a Nós", Conferência Geral, outubro de 2013)


CONCLUSÃO

O Elder Bruce R. McConkie resumiu bem tudo o que tratamos Ele disse que "as opiniões e pontos de vista, até de um profeta, podem conter erros, a menos que essas opiniões e pontos de vista tenham sido inspirados pelo Espírito. As declarações e as escrituras inspiradas devem ser aceitas como tal. Porém, observemos o seguinte: Paulo foi um dos maiores profetas e teólogos de todos os tempos, mas ele tinha algumas opiniões que não estavam totalmente de acordo com os sentimentos do Senhor, e ele incluiu algumas delas em suas epístolas. Mas sendo sábio e prudente, explicou que se tratavam de opiniões pessoais. Ele disse: “É assim que eu penso”. Quando terminou de explicar seu ponto de vista, ele disse: “Mas é isso que o Senhor acha”. Os pontos de vista de Paulo, suas opiniões pessoais, não eram tão perfeitas como poderiam ser.

Os profetas são homens, mas quando agem pelo Espírito de inspiração, o que eles dizem é a voz de Deus; contudo, ainda são mortais e têm o direito de ter opiniões particulares, e as têm. Devido à grande sabedoria e bom senso desses homens, seus pontos de vista talvez sejam os melhores que um homem mortal poderia ter, mas, a menos que sejam inspirados, a menos que estejam de acordo com as revelações, estão sujeitos a erros, da mesma forma que os pontos de vista de qualquer outra pessoa na Igreja.

Não precisamos ficar questionando inutilmente se as Autoridades Gerais estão falando pelo Espírito de inspiração ou não — podemos descobrir isso com certeza. Quero lembrar-lhes uma das famosas declarações de Joseph Smith a esse respeito: “O Senhor não revelará nada a Joseph que não revele aos Doze ou ao menor e último membro da Igreja, tão logo ele seja capaz de suportá-la”.

Isso é perfeito. Essa é a mesma doutrina que Paulo ensinou. Paulo disse: “Todos podereis profetizar”. Ele disse: “Procurai, com zelo, profetizar” (I Coríntios 14:31, 39). Todos os membros da Igreja, toda a Igreja deveria receber revelação. Ela não está restrita a uns poucos escolhidos, os missionários, ou os bispos. Precisamos receber revelação. Todos devemos ser como os apóstolos e profetas." ("Homens Comuns, Chamados Extraordinários", A Liahona Setembro de 2007)

Assim, podemos ter certeza plena que o profeta não nos desencaminhará - e que falará a mente e vontade do Senhor - basta desfrutarmos do espírito de revelação.



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ADENDO

O seguinte trecho da história da juventude de Gordon B. Hinkley, que se tornou profeta anos mais tarde, conta como ele resolveu suas duvidas, que incluíam a falibilidade das autoridades gerais:

"Gordon formou-se na LDS High School em 1928 e matriculou-se na Universidade de Utah no segundo semestre desse ano, exatamente um ano antes do início da Grande Depressão. (...)

À medida que trabalhava enquanto estudava e fazia a transição da dependência dos pais para a responsabilidade pessoal, ele, como muitos de seus colegas, começou a questionar suas visões sobre a vida, o mundo e até mesmo a Igreja. Às suas preocupações vinha somar- se o ceticismo da época. (...)

Felizmente, ele teve a oportunidade de falar de algumas de suas dúvidas com seu pai, e juntos eles examinaram as perguntas que ele levantara: a falibilidade das autoridades gerais, o motivo das dificuldades enfrentadas pelas pessoas que estão vivendo o evangelho, o motivo de Deus permitir que alguns de Seus filhos sofram e assim por diante. O ambiente de fé que reinava no lar de Gordon foi vital nesse período de questionamentos, como ele explicou posteriormente: ‘Meu pai e minha mãe eram absolutamente sólidos em sua fé. Eles não tentaram empurrar o evangelho goela abaixo nem me compeliram a participar, mas tampouco deixavam de expressar seus sentimentos. Meu pai era sensato e ponderado e não era dogmático. Ele dera aulas para estudantes universitários e gostava de conversar com os jovens e ouvir seus pontos de vista e dificuldades. Ele tinha uma atitude tolerante e compreensiva e estava disposto a conversar sobre qualquer coisa que eu tivesse em mente’.

Subjacente às perguntas e à atitude crítica de Gordon, havia uma linha de fé que se tecera lentamente ao longo dos anos. Pouco a pouco, apesar de suas perguntas e dúvidas, ele percebeu que tinha um testemunho que não podia negar. E embora ele tenha começado a compreender que não havia sempre uma resposta óbvia ou fácil para todas as indagações complexas, descobriu também que sua fé em Deus transcendia suas dúvidas. Desde a noite muitos anos antes em que assistira a sua primeira reunião do sacerdócio da estaca, ele sabia que Joseph Smith era um profeta: ‘O testemunho que eu recebera quando menino permaneceu comigo e tornou-se um esteio no qual eu poderia apoiar-me durante aqueles anos dificílimos’, disse ele” (Dew, Go Forward with Faith, pp. 45–47; Presidentes da Igreja Manual do Aluno, (2004), 253–77)




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