E a terra
era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de
Deus se movia sobre a face das águas. Gênesis 1:2
SEM FORMA E VAZIA
Em português lemos que a Terra “era sem forma e vazia”, todavia, em
Abraão 4:2 lemos que a Terra estava na verdade “vazia e desolada”, o que também
pode ser traduzido por “vazia e desordenada”. Pois se ela estivesse mesmo sem forma alguma haveria uma contradição
com o primeiro versículo bíblico.
“E a Terra, depois de formada,
estava vazia e desolada, porque eles [os Deuses] não haviam formado coisa alguma a não ser a Terra; e as trevas
reinavam sobre a face do abismo e o Espírito dos Deuses pairava sobre a face
das águas.” (Abraão 4:2, itálicos adicionados)
“Depois que a terra foi organizada e formada, e ela não era, de maneira
alguma, sem forma e vazia; muito pelo contrário, como diz o texto hebraico e
através do relato de Abraão, ela era “vazia e desolada”. De fato, no ponto em
que começa a descrição da preparação da terra para ser uma morada adequada para
o homem, ela se encontrava envolvida pelas águas, sobre as quais o “Espírito de
Deus” se movia ou pairava”. (Rasmussen, Introduction to the Old Testament, Vol.
1, pg. 11).
Algumas interpretações bíblicas dão um sentido mais amplo para terra
estar informe e vazia, dizendo que neste estágio da Criação havia um “caos
absoluto” [1], pois “trevas cobriam o abismo”. Absoluto, não obstante, o caos não podia ser – pois, como já
citamos o “Espírito de Deus pairava” – o que significa que havia uma vigia ou
um zelo dando ordem e sentido – aspectos evidentes em um processo criativo bem planejado
[2].
Entretanto, havia mesmo uma certa desordem nos elementos, os quais precisaram de um impulso criativo divino. Assim os materiais desorganizados foram organizados para possibilitar a vida. “Os primeiros comentários judeus e cristãos sobre a criação presumiam
que Deus havia organizado o mundo a partir de materiais pré-existentes,
salientando a bondade de Deus na formação de uma ordem que mantivesse a vida.”
[3]
Como o pai da igreja no século II Justin Martyr disse: “Foi-nos
ensinado que ele no início de sua bondade, por causa do homem, criou todas as
coisas a partir de matéria inorganizada” (The
First Apology of Justin, em Roberts e Donaldson, Ante-Nicene Fathers, vol
I, p. 165). [4]
HAVIA TREVAS SOBRE A FACE DO ABISMO
As trevas aqui mencionadas não se referem à iniquidade, que mais tarde
faria a Terra chorar e gemer (Moisés 7:48), e nem às Trevas Exteriores – o lugar
para onde serão lançados – e a condição em que se encontrarão – Satanás e seus demônios.
Alguns deduzem que quando éramos “inteligências” despidas de um corpo
espiritual [5] estávamos nas Trevas Exteriores, aguardando Deus nos resgatar e
nos gerar espiritualmente. Não há escritura que corrobore tal ideia. Na
verdade, há indícios de que não estávamos nas Trevas Exteriores, pois “Satanás
e suas hostes” irão para um lugar onde
jamais estiveram antes (e eles são filhos de Deus, gerados espiritualmente
por Ele – como eu e você!). Lembremo-nos
que o Reino sem Glória (Trevas Exteriores) é o destino apenas dos que cometerem
o pecado imperdoável (D&C 76:35). Além disso, Trevas Exteriores é um lugar e
uma condição que ninguém conhece, a não ser os que dela são feitos
participantes (D&C 76:46-48).
Se nós (como inteligências) não estávamos em Trevas Exteriores, estaria
o planeta Terra nesta condição antes de ser concluída a obra criadora? Não, pois como aprendemos a “Terra vive
a lei de um reino celestial, porque cumpre
o propósito de sua criação e não transgride a lei” (D&C 88:25, itálicos
adicionados).
Mesmo considerando que os elementos que formaram este planeta estavam
desorganizados, não podemos supor que houve uma “reciclagem” de materiais e elementos
retirados das Trevas Exteriores. Assim o sentido de “havia trevas” sobre a face
do abismo é muito mais simples. O abismo é o mar [6] – ou, na ocasião do primeiro
dia de Criação – as águas que cobriam o planeta. E havia trevas – escuridão
total, pois não havia sido criado a luz – o que ocorrerá somente nos versículos
seguintes (Gênesis 1:3-5).
O ESPÍRITO DE DEUS SE MOVIA
Em hebraico o termo “se mover” ou “pairar” que esta na nossa versão em
português descreve o que um pássaro ou galinha faz ao incubar e vigiar seus
ovos no ninho!
“A tradução “pairar” vem de uma palavra que significa aquilo que uma galinha
faz com os ovos e os pintinhos; ela protege, aquece, alimenta e defende. Jesus
usou essa analogia de uma galinha reunindo os pintinhos em sua descrição do que
Ele faria por Seus seguidores (Mateus 23:37; 3 Néfi 10:3-6) Neste sentido o
Espírito ainda está pairando sobre as criações de Deus.” (Manual do Aluno do Curso ‘A Pérola de Grande Valor´- Religião 327 -
pg. 41).
Que Espírito zelava pela
criação? Em Abraão, conforme já mencionado, lemos que era o “espírito dos
Deuses”. Seria o Espírito Santo? Ou seria a “Luz de Cristo” que é chama também
de “Espírito de Cristo”?
“A Luz de Cristo é a energia, o poder ou a influência divina que provém
da presença de Deus por intermédio de Cristo e dá vida e luz a todas as coisas.
A Luz de Cristo influencia as pessoas para o bem e as prepara para que recebam
o Santo Espírito. (...) A Luz de Cristo “procede da presença de Deus para
encher a imensidade do espaço”. Ela é “a luz que está em todas as coisas, que
dá vida a todas as coisas, que é a lei pela qual todas as coisas são governadas”
(D&C 88:12–13; ver também D&C 88:6–11). Esse poder é uma influência
benéfica na vida de todas as pessoas (ver João 1:9; D&C 93:2). Nas
escrituras, a Luz de Cristo é às vezes chamada de Espírito do Senhor, Espírito
de Deus, Espírito de Cristo ou a Luz da Vida.” (Tópicos do evangelho, “Luz de Cristo”)
“A força criadora, aqui chamada de “Espírito de Deus”, que age sobre os
elementos no sentido de formá-los e prepará-los para suster a vida sobre a
terra, pode ser a mesma encontrada em Doutrina e Convênios, chamada de “Luz de
Cristo”. É óbvio que o Filho exerceu esse poder, sob as ordens do Pai, conforme
podemos ver também através de escrituras como João 1:1-4, Hebreus 1:1-2, Helamã
12:8-14 e Jacó 4:6-9” (Rasmussen, Introduction
to the Old Testament, Vol. 1, pg. 11)
SOBRE A FACE DAS ÁGUAS
A Terra estava completamente coberta com água. Sabemos que foi um passo
necessário e bem elaborado da Criação, que possibilitou, mais tarde, uma “separação
entre águas e águas” (Gênesis 1:6) – formando a hidrosfera, tão necessária para
vida que se seguiria [6].
Para finalizar, menciono um aspecto simbólico: o fato da Terra
estar coberta de água no inicio. Nós, filhos de Deus, quando nascemos nesta
Terra, também estamos envoltos por água, na placenta de nossa genitora! Esse
simbolismo prossegue, com maior relevância, no Diluvio – o batismo da Terra,
como estudaremos mais tarde.
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NOTAS
[1] “E a terra estava um caos absoluto; havia treva sobre a face do
abismo, e o RUKHA Ulhim movia-se [pairava] por sobre as águas.” – Interpretação
do grupo evangélico “Yaohushua
Antares”.
[2] O Elder Russell M. Nelson explicou que “Toda a Criação foi planejada por Deus” e que “cada fase da Criação foi muito bem planejada
antes de ser executada (...) O período um [da Criação] incluía a criação do
céu atmosférico e da Terra física, terminando com o surgimento da luz e das
trevas.” (“A
Criação”, Conferência Geral Abril de 2000)
[3] “Tornar-se como Deus”, tópicos do evangelho, fonte: www.lds.org/topics/becoming-like-god?lang=por
[4] ver também Frances Young, ‘Creatio Ex Nihil’: A Context for the
Emergence of the Christian Doctrine of Creation” Scottish Journal of Theology
44, nº 1, 1991: 139 – 51; Markus Bockmuehl, “Creation Ex Nihilo in Palestinian
Judaism ans Early Christianity”, Scottish Journal of Theology 66, nº 3, 2012:
pp. 253–70
[5] “As escrituras podem também falar de inteligência referindo-se ao
elemento-espírito que existia antes de sermos gerados como filhos espirituais” (Tópicos
do Evangelho, “Inteligência(s)”).
Por exemplo, D&C 93:29: “O homem também estava no princípio com Deus. A
inteligência, ou seja, a luz da verdade, não foi criada nem feita nem
verdadeiramente pode sê-lo.”
[6] “Há diversas teorias a respeito da formação da hidrosfera na Terra.
O planeta contêm proporcionalmente mais água na superfície do que outros corpos
existentes no sistema solar.
Uma das hipóteses que tem ganhado popularidade entre cientistas é a de
que a Terra esteja sujeita a um período de bombardeio de cometas e asteroides
ricos em gelo assim tendo água e mais água. Outra teoria que explica o
surgimento da hidrosfera diz que, quando a Terra apresentava temperaturas
altíssimas, vulcões expeliam vários gases e vapores de água. Esses vapores
favoreceram a ocorrência de chuvas, que resfriaram e amenizaram a temperatura
do planeta.” (Fonte:
Wikipédia)
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