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A Criação (Gênesis 1-2) - parte D (Os céus e a Terra)

O Senhor criou os Céus e a Terra. Terra, refere-se a nosso planeta. Todavia, a interpretação de “céus” não é tão simples. O texto neste primeiro versículo bíblico traz “céus” em vez de “céu” (embora algumas versões da Bíblia em português prefiram “céu” no singular [1] ). O detalhe da palavra no plural pode passar desapercebido ou parecer insignificante, pois poderia apenas indicar uma forma poética/simbólica de narrar a Criação, porém, por meio de comparação com outras passagens de escrituras nosso entendimento se amplia. Por exemplo: “Eis que os (1) céus e (2) os céus dos céus são do Senhor teu Deus, a terra e tudo o que nela há.” (Deuteronômio 10:14, sublinhei e numerei). “Àquele que vai montado sobre os céus dos céus, que existiam desde a antiguidade; eis que envia a sua voz, dá um brado veemente.” (Salmos 68:33, sublinhei).


Primeiramente é preciso ponderar que o termo “céus” possui vários significados nas escrituras: (1) Expansão ao redor da Terra (Gênesis 1:17), (2) Lugar onde Deus vive (Gênesis 28:11, Apocalipse 4), (3) Mundo Espiritual Pós-mortal (Paraíso) (Lucas 23:39-44, João 20:17, D&C 138:11-37), (4) futura morada dos que forem salvos (Mosias 2:41, Apocalipse 21:1), (5) lugar onde vivem os seres transladados (D&C 110:13, Moisés 7:23), (6) os Reinos de Glória (D&C 76, II Coríntios 12:2), etc.

A questão é: Deus criou quais céus? Ele o fez na mesma ocasião, relatada em Gênesis, em que criou a Terra que vivemos?

A resposta é que Deus realmente criou – e cria – todos os céus: “E o Senhor Deus falou a Moisés, dizendo: Eis que eu sou o Senhor Deus Todo-Poderoso, e Infinito é meu nome (...). E eis que tu és meu filho; portanto olha e mostrar-te-ei as obras de minhas mãos (...). Os céus, eles são muitos e são inumeráveis para o homem; mas são enumeráveis para mim, pois são meus.” (Moisés 1:3-4 e 37, sublinhei).

Veja o significado de "no princípio".

Neste relato incrível também aprendemos que o Senhor revelou a Moisés “o que concerne a este céu e a esta Terra”, e ordenou-lhe: “escreve as palavras que eu digo. Eu sou o Princípio e o Fim, o Deus Todo-Poderoso; por meio de meu Unigênito eu criei estas coisas; sim, no princípio criei o céu e a Terra sobre a qual estás.” (Moisés 2:1, sublinhei) Todavia, no mesmo capítulo, já no contexto de Criação deste mundo que vivemos, Deus nomeia o “firmamento” de “céus” (Moisés 2:8-9), indicando, portanto, que dali para frente “céus” (no plural, em conformidade com a língua hebraica) também se referirá ao panorama obtido quando se olha o universo que rodeia a Terra: aquele cenário azul com nuvens e sol, durante o dia, que você vê quando olha para cima.

Em Abraão lemos que “os Deuses, organizaram e formaram os céus e a Terra” (Abraão 4:1, sublinhei). Neste relato Abraão também esta se referindo a criação de nosso planeta.

Devido às constatações acima não há como medir a extensão do significado de Gênesis 1:1. Os escritores e tradutores da Bíblia não tinham condições e explicar apropriadamente os “céus”. Deus realmente criou um Céu e uma Terra (sobre a qual estamos). Mas fez antes outros céus – dos quais pouco sabemos. Ele criou esta Terra (e seu céu) primeiro espiritualmente, como oportunamente discorreremos. Ele criou o mundo dos espíritos (que também é chamado de céu). Ele criou e cria mundos (e céus) sem fim: “como uma terra com seu céu passará, assim outra surgirá; e não há fim para minhas obras nem para minhas palavras.” (Moisés 1:38, sublinhei).

Isso abre nossa mente para imaginar a grandiosidade do Cosmos. Uma teoria filosófica-cientifica que tem ganhado notoriedade nos últimos anos é a do multiverso: Trata-se de “estudos sobre a enigmática matéria escura e os resultados obtidos sobre a expansão crescente e sem retorno do nosso universo parecem exigir uma resposta que rompe com um paradigma fundamental - o universo é infinito e nele tudo está contido. A teoria do multiverso traz o sentido no nome: existiriam infindáveis universos numa espécie de queijo de energia quântica, onde bolhas se formam e somem sem parar. O nosso universo seria um deles.” [2]

Sendo verdadeira ou não a teoria do multiverso, a Palavra de Deus afirma que realmente existem “céus dos céus” (I Reis 8:27, Jó 35:5, D&C 132:46, D&C 107:19, etc.) e que Deus é “de eternidade em eternidade (D&C 76:4, Moisés 7:22).

Para nosso regozijo, conforme ensinou o Presidente Brigham Young: o evangelho restaurado abrange toda a verdade (inclusive sobre os céus). Ele disse: “Todo conhecimento e sabedoria e todo bem que o coração humano possa desejar encontram-se dentro do âmbito da fé que abraçamos. (...) Ele abrange toda verdade que existe nos céus e no céu dos céus—todo conhecimento que existe na face da Terra, no seio da Terra e nos espaços estrelados; em resumo, abrange toda a verdade que existe em todas as eternidades dos Deuses. (Discursos de Brigham Young, pg. 446 e 448, sublinhei).

Embora o Senhor tenha falado pouco para nós sobre o céu, sobre os céus e sobre os céus dos céus sabemos que, no devido tempo, e de acordo com Sua Vontade, aprenderemos mais. O que precisamos compreender é que Deus, de fato, criou os céus e a Terra – e tudo o que neles há. Agora, a extensão, profundidade, alcance, poder, majestade e funcionamento para nós se mostra tanto como um mistério para mente e como um motivo de contemplação profunda para o espírito. Portanto, busquemos aprender mais, pois o Senhor disse: "Darei aos filhos dos homens linha sobre linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e um pouco ali; e abençoados os que dão ouvidos aos meus preceitos e escutam os meus conselhos, porque obterão sabedoria; pois a quem recebe darei mais." (2 Néfi 28:30)

Para concluir: no relato da Criação, com raras exceções (como no caso de Genesis 1:1), “céus” refere-se a uma “expansão” (Gênesis 1:7) que recebeu luminares (Gênesis 1:14-18) e a um lugar onde as aves voam (Gênesis 1:20 e 30). Em outras palavras “céus” em Gênesis vincula-se a esta Terra física – na nossa língua refere ao "céu" acima da Terra em que estamos (Gênesis 2:1, 4).

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NOTAS

[1] "A palavra "Shamaiym" em hebraico significa "céus", sempre no plural. Ao encontrar a palavra céu, no singular, nas traduções, devemos desconsiderar, pois em hebraico só existe a forma plural "céus"." (Fonte: http://yaohushua.antares.com.br/bereshiyt01.htm )

[2] Wikipédia. Leia mais aqui.


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ESTUDO COMPARADO

- Os evangélicos entendem existir 3 céus: o firmamento, as regiões celestes, e o paraíso (céu dos céus). Leia mais.

- Os adventistas do sétimo dia acreditam que a expressão “céu dos céus” refere-se ao lugar onde Deus habita. Leia mais.

- O Corão fala de sete céus sobrepostos (67º Surata, versículo 3). A maior parte dos mulçumanos interpreta esse versículo como simbólico ou poético. Eles acreditam que o firmamento se situa “abaixo do céu elevado, o Empíreo – a esfera de fogo (Gurratun-nar), o assento, supomos, dos celíolas (de anjos), mencionados no versículo 8, adiante. Nas imaginações poéticas do Oriente e Ocidente, há os sete firmamentos dos planetas do sistema solar; acima deles está a esfera de estrelas fixas; acma desta está a esfera cristalina, equilibrando outros movimentos; mais acima, ainda, está o primeiro a se mover, a fonte dos movimentos celestiais; e acima de tudo, o Empíreo. Os astros e os planetas, pro conseguinte, encontram-se no firmamento inferior” (Nota 1761 do Alcorão Sagrado – O significado dos versículos com comentários, Tradução de Samir El Hayek, Editora MarsaM, 2004, Sã Paulo). Os muçulmanos acreditam em um céu – ou como preferem – um paraíso. “O muçulmano deve acreditar na existência do paraíso e do inferno; do castigo e da recompensa e no purgatório porque o pensamento islâmico obriga os muçulmanos a acreditarem na justiça divina e essa justiça se manifesta de uma maneira clara e objetiva no dia do juízo final quando os homens serão julgados perante Deus Altíssimo, depois do dia da ressurreição.” (Fonte: Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos).

- Os católicos acreditam em um único céu e em um único inferno, mas também no purgatório – que purifica os escolhidos para salvação para “entrar na bem-aventurança celeste” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica 209 e 2010). Sendo assim, “céus” e “céus dos céus” é expressão poética.

- Outras religiões e crenças: “no budismo existem vários Céus, todos os quais fazem parte da Samsara (realidade ilusória). Aqueles que acumulam bom karma podem renascer em um deles. Todavia, sua estadia no Céu não é eterna—eventualmente, usarão seu bom karma para renascer em outra realidade, como humano, animal ou outros seres. Visto que o Céu é temporário e parte de Samsara, os budistas concentram-se mais em escapar ao ciclo de renascimentos e atingir a iluminação (Bodhi). Nas tradições nativas do confucionismo chinês, o Céu (Tian) é um conceito importante que remete a uma ideia de harmonia subjacente, onde os ancestrais residem e do qual os imperadores retiram seu mandato para governar. Outrossim, na crença hinduísta, há um "Céu transitório" denominado Svarga, destinado às almas que fizeram boas ações mas que não tornaram-se ainda merecedoras de moksha ou da fusão (união) com Brahma. Tian () "Céu" é uma divindade chinesa equiparada a Shangdi. O culto celeste era a religião oficial imperial do Império Celeste. Na doutrina espírita, o Céu é designado pelo termo colônias espirituais, sendo a mais famosa delas Nosso Lar.” Fonte Wikipédia. Clique aqui para ler mais.

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