Com grande tristeza, por meio do porta-voz da Igreja, Eric Hawkis, soubemos de que James J. Hamula foi excomungado da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Veja a notícia no site oficial da Igreja aqui.
James J. Hamula [1] serviu por quase nove anos como uma Autoridade Geral da Igreja, um membro do Quorum dos Setentas. Fazia 28 anos que nenhuma Autoridade Geral era excomungada da Igreja. Certamente a notícia é triste [2], mas ensina lições importantes – que em vez de abalar, podem fortalecer a fé na obra de Deus.
Recomendo a leitura deste artigo antes de prosseguir: https://mormonsud.net/voltando-a-igreja/pensamentos-sobre-a-excomunhao/
OS LÍDERES NÃO SÃO PERFEITOS, MAS A OBRA DE DEUS É
Fiquei um pouco aborrecido com o sensacionalismo criado em torno da notícia da excomunhão do irmão Hamula. Sei que é algo incomodo, até perturbador. Alguns ficaram preocupados com a imagem da Igreja, outros, mais sensíveis, com a exposição do irmão Hamula e de sua família. Evidentemente não é uma situação confortável pra ninguém. Imagine para as milhares de pessoas que o ministério do irmão Hamula alcançou nestes muitos anos de serviço. Ele foi presidente de missão, serviu como bispo – deu dois discursos em Conferências Gerais. Imagine as pessoas que foram abençoadas com suas palavras e exemplo! Certamente devem estar lamentando profundamente. Algumas até veem, nesta notícia, um tremor no testemunho.
Tenho algo a dizer sobre isso.
Primeiro que nenhum líder, por maior que seja o seu chamado no Reino, é infalível. Somente o Salvador é perfeito.
Não é incomum nas escrituras verificar que homens santos, profetas e apóstolos erraram. Balaão, um profeta, caiu em desgraça ao permitir que o “galardão da injustiça” (2 Pedro 2:15) entrasse em seu coração – e devido “aquele lucro que corrompe a alma” (Mosias 29:40) acabou pecando.
Jonas fugiu de sua missão (Jonas 1); Judas, que estava na visão de Leí entre os “doze [que] seguiam [Jesus Cristo, cujo] brilho excedia ao das estrelas no firmamento” (1 Néfi 1:10), traiu o Salvador (Lucas 22:48); Pedro negou o Salvador três vezes (Marcos 14:72); Paulo e Barnabé tiveram “não pequena dissensão e contenda” (Atos 15:2); Leí murmurou (1 Néfi 16:20); Joseph Smith foi diversas vezes repreendido pelo Senhor em Doutrina e Convênios (por exemplo: D&C 10). Evidentemente entre Balaão e Joseph Smith havia uma grande diferença – mas o que desejei mostrar é que os líderes são falhos.
Entretanto, apesar das fraquezas e imperfeições, Deus honra Seus profetas – e os perdoa, caso se arrependam. Escrevemos mais sobre esse assunto aqui.
Segundo, nosso testemunho não deve estar amparado em homens.
Não devemos confiar no braço da carne. E admirar tanto um líder a ponto de esquecermos que nosso Mestre é o Senhor e Salvador Jesus Cristo. É Jesus Cristo que nos salva, não Joseph Smith (o grande profeta da Restauração), nem Paulo, Pedro, Moisés, Thomas S. Monson ou qualquer outro.
Quando centralizamos nosso testemunho no Senhor – que é o marco de nossa fé – nos firmamos na Rocha – de modo que não podemos cair (Helamã 5:12)
Desejo acrescentar que embora vários homens que serviram na Primeira Presidência e no Quorum dos Doze Apóstolos, em nossa dispensação, tenham perdido sua posição [3], o Presidente da Igreja jamais apostatará.
O Presidente Wilford Woodruff assegurou que sempre podemos ter fé no profeta de Deus:
“O Senhor jamais permitirá que eu ou qualquer outro homem que presida esta Igreja vos desvie do caminho verdadeiro. Isso não faz parte do plano, não é a intenção de Deus. Se eu tentasse fazê-lo, o Senhor me [afastaria de meu lugar]” [4]
O Presidente Joseph F. Smith deu um testemunho similar:
“Se [o Presidente da Igreja] pudesse tornar-se infiel, Deus o removeria de seu lugar. Testifico em nome do Deus de Israel que Ele não permitirá que o líder da Igreja, a quem Ele escolheu para esse cargo, transgrida Suas leis e apostate; assim que ele venha a tomar um rumo que possa conduzi-lo a isso, Deus o tirará da Terra. Por quê? Porque permitir que um homem iníquo ocupe esse cargo seria permitir, se isso fosse possível, que a fonte se corrompesse, algo que Ele jamais permitirá que aconteça” [5]
O PROCESSO DISCIPLINAR NA IGREJA É SÉRIO – E TODOS ESTÃO SUJEITOS
Essa é uma das lições mais importantes que podemos extrair desta situação triste. Deus não se deixa escarnecer (Gálatas 6:7) – e quando os pecados são sérios, os pecadores devem ser submetidos a penalidade máxima: excomunhão.
“As transgressões mais sérias, tais como a violação da lei civil, abuso do cônjuge ou de crianças, adultério, fornicação, estupro e incesto em geral requerem uma disciplina formal da Igreja. Essa disciplina formal pode incluir restrições do privilégio de participação na Igreja ou a perda da condição de membro da Igreja.” [6]
Nós não sabemos o motivo que levou irmão Hamula a ser excomungado. Tudo que sabemos é que não foi por apostasia pessoal (ou seja, ele não se voltou contra os ensinamentos e práticas da Igreja, nem se rebelou contra liderança) ou por desapontamento. É impróprio especular os motivos que levaram irmão Hamula a excomunhão.
“A disciplina da Igreja é um processo inspirado que leva algum tempo. Por meio desse processo e da Expiação de Jesus Cristo, um membro pode receber perdão pelos pecados, recuperar a paz de consciência e obter força para evitar a transgressão no futuro. A ação disciplinar da Igreja é efetuada para ajudar os filhos do Pai Celestial em seus esforços de se purificarem do pecado pela Expiação, de retornar à comunhão total na Igreja e recuperar a totalidade das bênçãos que ela oferece.” [7]
PODEMOS SABER QUE UM LÍDER AGE EM NOME DE DEUS COM TODA CERTEZA
Tudo o que irmão Hamula fez e disse, sob o manto da liderança – e sob inspiração do Altíssimo foi válido – e seus ensinamentos nas Conferências Gerais continuam sendo valorosos.
Podemos saber que um líder age em nome de Deus quando:
- vemos seus frutos – (Mateus 7:20) parte desses frutos se relaciona ao testemunho de Cristo e a advertência para que nos arrependamos e sigamos o Salvador.
- a autoridade foi dada e houve o devido apoio – o Presidente Boyd K. Packer ensinou: Sempre somos informados sobre quem é chamado para liderar ou ensinar, e temos a oportunidade de apoiar essa medida ou de opor-nos a ela. Isso não é invenção humana; é algo que nos foi dado nas seguintes revelações: “(…) a ninguém será permitido sair a pregar meu evangelho ou estabelecer minha igreja, a não ser que tenha sido ordenado por alguém que tenha autoridade; e que a igreja saiba que tem autoridade e foi apropriadamente ordenado pelos dirigentes da Igreja” (D&C 42:11; grifo do autor). Dessa forma, a Igreja é protegida de qualquer impostor que queira assumir o controle de um quórum, ala, estaca ou da Igreja.” [8]
- pelo poder do Espírito Santo – O Presidente J. Reuben Clark ensinou: “Como poderá a Igreja saber quando (…) os anunciadores foram “inspirados pelo Espírito Santo”? A Igreja saberá pelo testemunho do Espírito Santo no corpo de membros, e os irmãos ao declararem seus pontos de vista foram “inspirados pelo Espírito Santo”, e no devido tempo esse conhecimento se tornará manifesto.” [9]
Além disso, Deus providenciará mais testemunhas para testificar sobre a doutrina que o líder ensina (II Coríntios 13:1).
Devemos buscar o espírito de revelação. Não precisamos ficar questionando inutilmente se as Autoridades Gerais estão falando pelo Espírito ou não — podemos descobrir isso com certeza. Paulo ensinou: “Todos podereis profetizar”. Ele disse: “Procurai, com zelo, profetizar” (I Coríntios 14:31, 39). Todos os membros da Igreja, toda a Igreja pode receber revelação. Ela não está restrita a uns poucos.
COM RELAÇÃO AO IRMÃO HAMULA
O Salvador ensinou como devemos tratar aqueles que são excomungados da Igreja:
“Não obstante, não o expulsareis de vossas sinagogas nem de vossos lugares de adoração, pois junto a esses deveis continuar a ministrar; porque não sabeis se eles irão voltar e arrepender-se e vir a mim com toda a sinceridade de coração e eu irei curá-los; e sereis vós o meio de levar-lhes salvação.” (3 Néfi 18:32)
Assim podemos orar pela família do irmão Hamula e por ele, para que permaneçam ativos. Podemos continuar a estender a mãos a todos os ex-membros da Igreja, e incentivá-los a completarem todos os passos do arrependimento e receberem o divino perdão – e terem todas as bênçãos restauradas.
É adequado também não especular sobre os motivos que o levaram o irmão Hamula a se afastar dos padrões da Igreja – e nutrir o nosso próprio testemunho todos os dias, buscando revelação sobre revelação.
O que eu sei é que ele ainda tem direito à Expiação de Jesus Cristo - e que ele pode voltar-se ao Senhor, e ser perdoado e salvo.
CONCLUSÃO
Sabendo que Deus esta adiante desta obra, apesar da imperfeição dos homens – inclusive dos líderes. Sabendo que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida – e tendo o testemunho firmado Nele. Sabendo que o Presidente da Igreja, o Profeta, nunca desencaminhará a Igreja. Sabendo que o Espírito, se o tivermos, nos advertirá sobre o perigo e nos dará revelação sobre revelação. Sabendo que quando um membro cai em pecado sério é submetido a um Conselho Disciplinar – e pode até mesmo ser excomungado. E sabendo que a excomunhão pode ser parte de um processo purificar e renovador – e que, no devido tempo, as bênçãos podem ser restauradas. Sabendo tudo isso podemos nos sentir seguros e não ter nosso testemunho abalado. De fato, podemos tirar lições importantes do que aconteceu: como a seriedade com que a Igreja trata essas questões.
Devemos orar pelas pessoas que estão sofrendo nesta situação. E seguir a ordem do Senhor, de continuar a zelar por elas. No devido tempo, um Deus amoroso e justo, recompensará cada um de nós de acordo com nosso desejos e obras. Que sejamos encontrados dignos.
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NOTAS
[1] James Joseph Hamula nasceu em Long Beach, Califórnia, em 20 de novembro de 1957. Casou-se com Joyce Anderson em abril de 1984. Eles têm seis filhos. Ele foi apoiado como Setenta Autoridade Geral de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em 5 de abril de 2008, aos 50 anos de idade. Por ocasião desse chamado, ele estava servindo como membro do Sexto Quórum dos Setenta na Área América do Norte Sudoeste. Ele serviu também como conselheiro na Área Oceania.
Hamula formou-se em ciências políticas e filosofia pela Universidade Brigham Young em 1981. Graduou-se magna cum laude (com grandes honras). Em 1985, obteve o título de mestre em filosofia política e o título de doutor em jurisprudência também pela Universidade Brigham Young. Após formar-se, iniciou sua carreira legal no escritório de advocacia Evans, Kitchel & Jenckes, P.C. Atualmente é acionista da Gallagher & Kennedy, P.A. Foi nomeado um dos Melhores Advogados dos Estados Unidos pela Câmara dos EUA de 2005 a 2008. Também figurou como um dos Super Advogados do Sudoeste em 2007 e 2008.
O irmão Hamula serviu em vários chamados na Igreja, incluindo o de missionário de tempo integral na Missão Alemanha Munique, bispo, presidente do quórum de élderes, sumo conselheiro, presidente de estaca, presidente da Missão Washington D.C. Sul, presidente dos Rapazes da estaca e Setenta de Área.
Fonte: site oficial da Igreja”
Os dois discursos que irmão Hamula deu em Conferências Gerais são: “Vencer a Guerra contra o mal” (outubro de 2008) e “O Sacramento e a Expiação”
[2] Por ser uma notícia triste algumas pessoas a consideraram a veiculação da mesma impertinente. Elas argumentaram que a excomunhão é a sanção máxima da Igreja e deve ser mantida em sigilo, pois afeta muito a vida da pessoa que sofre a ação disciplinar e de sua família. Algumas afirmaram que essa notícia só mancha a imagem da Igreja. O fato é que a própria Igreja fez o anuncio – não para humilhar o irmão Hamula, mas para informar os membros que o mesmo não era mais Autoridade Geral. Tal notícia é essencial, pois o irmão Hamula é uma figura publica – sendo conhecido no mundo inteiro como Autoridade Geral. Ademais, de uma organização mundial séria é esperado que tais atitudes sejam tomadas, pois sem essa transparência o próprio discurso da Igreja, de honestidade, moralidade, boa-fé e lisura seriam afetados. A Igreja, contudo, manteve sigilo com relação ao motivo da ação disciplinar, para proteger a intimidade do irmão Hamula.
[3] Em nossa dispensação tivemos vários irmãos que serviram na Primeira Presidência e no Quorum dos Doze que, por variados motivos, foram excomungados ou que não foram excomungados, mas perderam sua posição na liderança do Reino. São eles (excomunhão ou perda da posição em parenteses): Oliver Cowdery (1838) * David Whitmer (1838) Martin Harris (1983) * Lyman Johnson (1838) John F. Boynton (1838) Thomas B. March (1839) * Orson Hyde (1839) * John C. Bennett (1842) Sidney Rigdon (1844) William E. McLellin (1844) John E. Page (1844) William Smith (1845) Lyman Wight (1848) Amasa Mason Lyman (1867) Moses Thatcher (1896) + Matthias F. Cowley (1904) + John W. Taylor (1910) Richard Roswell Lyman (1943) *
* foram rebatizados; + perderam a posição, mas se mantiveram fiéis ao Evangelho.
Há outras Autoridades Gerais (que não serviram na Primeira Presidência ou nos Doze) que foram excomungadas e não estão relacionadas aqui.
[4] Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Wilford Woodruff 2004, p. 203
[5] Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph F. Smith, 1998, p. 227
[6] Sempre Fiéis (2004), p. 44
[7] Idem a Nota anterior
[8] Conferência Geral outubro de 2017 – “Os Fracos e Simples da Igreja”
[9] Curso do Sacerdócio de Melquisedeque – Imortalidade e Vida Eterna, Volume 2, 1983, p. 201-202
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