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Exorcismo e Evangelho de Jesus Cristo

Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não costumamos usar a palavra "exorcismo", preferindo a expressão "expulsão de demônios", conforme as escrituras.


INTRODUÇÃO
Preliminarmente devo dizer que em nossas aulas dominicais não falamos muito sobre este assunto, os oradores da Reunião Sacramental não o abordam - e não há expulsão de demônios como parte das cerimonias da Igreja - como ocorre em algumas igrejas evangélicas. De fato, temos muito coisa boa para falar e tratar. Sabemos que aqueles que se aprofundam em estudar o mal acabam se apegando a ele. O Élder James E. Faust disse:
"Não é uma coisa boa interessar-se por Satanás e seus mistérios. Nada de bom pode resultar de aproximar-nos do mal. Tal como quando brincamos com fogo, é muito fácil nos queimar: “O conhecimento do pecado induz à sua prática” (Joseph F. Smith, Gospel Doctrine, 5ª ed., 1939, p. 373). O único caminho seguro é manter-nos bem distante dele e de quaisquer de suas atividades iníquas e práticas depravadas. Os males do culto ao diabo, da feitiçaria, da bruxaria, do ocultismo, dos encantamentos, da magia negra e todas as outras formas de demonismo devem ser evitados como praga.
No entanto, o Presidente Brigham Young (1801–1877) disse ser importante “estudar (...) o mal e suas consequências” (Discourses of Brigham Young, sel. John A. Widtsoe, 1941, p. 257). Sendo Satanás o autor de todo o mal no mundo, é essencial, portanto, dar-nos conta de que ele é a influência por trás da oposição à obra de Deus. Alma declarou esse ponto sucintamente: 'Tudo que é bom vem de Deus e tudo que é mau vem do diabo' (Alma 5:40)" [1]

EXPULSÃO DE DEMÔNIOS NAS ESCRITURAS
É inegável para o estudioso das escrituras que possessões e expulsões de espíritos malignos acontecem. O Rei Benjamim profetizou, séculos antes do nascimento de Jesus Cristo, que o Salvador "expulsará demônios, ou seja, os espíritos malignos que habitam no coração dos filhos dos homens." (Mosias 3:6). Enquanto estava na Terra, realmente Cristo expulsou muitos espíritos malignos. Por exemplo: "E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios (...) E pregava nas sinagogas deles por toda a Galileia, e expulsava os demônios" (Marcos 1:34, 39).
Cristo disse que o fato Dele expulsar demônios era um sinal da chegada do Reino de Deus para os incrédulos (Lucas 11:20) [2]. Ele também deu poder a seu apóstolos para que expulsassem espíritos malignos (Marcos 3:14-15). Ele disse que este seria uma sinal para os que cressem (Mórmon 9:24). De fato, em muitas passagens Cristo promete: "os que pedirem em meu nome, com fé, expulsarão demônios" (D&C 35:9). Seus apóstolos antigos realizaram este tipo de milagre  (Marcos 6:13, Atos 16:16-18). Quando o Salvador estava entre os nefitas realizou este tipo de milagre (3 Néfi 17:6-10), que também havia sido realizado por seus discípulos (3 Néfi 7:22).


QUEM PODE EXPULSAR DEMÔNIOS?
Em nossa dispensação o Senhor disse que seus servos teriam poder para expulsar demônios (D&C 124:98). Este é um poder inerente ao Sacerdócio de Melquisedeque. Somente portadores do Sacerdócio maior podem verdadeiramente expulsar demônios.
É verdade que muitos, que não portam o Sacerdócio de Melquisedeque dizem expulsar demônios. Mas isso não qualifica um servo de Deus, pois o Salvador mesmo ensinou:  "Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade."  (Mateus 7:2-23). Aparentemente essas pessoas agem pelo poder do homem e dos demônios, para iludir e enganar [3]. 
Os portadores do sacerdócio não buscam essas experiências. Mas devem estar preparados para elas. Em Doutrina e Convênios lemos:
"Portanto acontecerá que, se virdes manifestado um espírito que não podeis compreender e não conhecerdes esse espírito, perguntareis ao Pai em nome de Jesus; e se ele não vos der a conhecer, então sabereis que não é de Deus. E ser-vos-á dado poder sobre esse espírito; e proclamareis contra esse espírito, em alta voz, que ele não é de Deus — Não com acusações injuriosas, para que não sejais vencidos, nem com jactância ou regozijo, para que não sejais por ele apanhados. Aquele que recebe de Deus, reconheça que é de Deus; e que se regozije por Deus considerá-lo digno de receber. E dando ouvidos e fazendo essas coisas que recebestes e que mais adiante recebereis — e o reino vos é dado pelo Pai, assim como o poder para vencer todas as coisas que não são por ele ordenadas" (D&C 50:31-35).
Outras passagem acrescentam mais informações, por exemplo: os portadores do sacerdócio não devem buscar essas experiências, mas se forem procurados por pessoas que necessitam de tais milagres deverão agir (D&C 24:13-14).
A ordenança de expulsar demônios (pois trata-se de uma ordenança) deve ser aprendida especialmente por revelação. Além disso, o Senhor nunca deixará seus filhos desamparados (D&C 84:65, 67). O Presidente James E. Faust certa vez testificou que os membros da Igreja possuem “um grande escudo contra o poder de Satanás e seus anjos” [4]. Esse escudo é a fé em Deus, a retidão e o sacerdócio.
Caso nos seja requerido expulsar demônios, precisamos estar preparados. Há alguns que não se rendem a ordem de um portador do sacerdócio despreparado. Alguns discipulos (não os apóstolos), que tinham o Sacerdócio, se aproximaram de Cristo "em particular [e] disseram: Por que não pudemos [expulsar demônios]?  E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a este monte: Passa daqui para acolá; e haveria de passar; e nada vos seria impossível. Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e por jejum." (Mateus 17:19-21).
Deus ordenou que não nos "[vangloriemo-nos] destas coisas nem [falemos] delas diante do mundo; pois estas coisas vos são dadas para vosso proveito e salvação." (D&C 84:73). É por isso que não costumamos discutir sobre isso. Realmente nada muito agradável provém de conversas sobre este assunto. Temos que conhecer a doutrina, e nossa preocupação maior deve ser a árvore da vida, não o rio de águas sujas (quando Leí teve a Visão da Árvore da Vida, seu interesse maior era na Árvore que representava o amor de Deus e não no poluído rio, que representava o inferno e as astucias e enganos e Satanás - 1 Néfi 15:26-27).


POR QUE SATANÁS SE APOSSA DE CORPOS MORTAIS?
O motivo pelo qual Satanás e seus seguidores se apossam de corpos mortais foi explicado pelo profeta Joseph Smith:
“Viemos a este mundo com o objetivo de obter um corpo e poder apresentá-lo puro diante de Deus no reino celestial. O grande plano de felicidade consiste em ter um corpo. O diabo não tem corpo, e esse é seu castigo. Ele fica contente quando pode obter o tabernáculo de um homem e, quando foi expulso pelo Salvador, pediu para entrar numa manada de porcos, mostrando que preferia o corpo de um suíno a não ter corpo algum. Todos os seres com corpos possuem domínio sobre os que não os têm.” [5]
Mas Satanás e seus servos não podem adentrar em nosso corpo a menos que o permitamos. O Profeta afirmou:
“Satanás não pode seduzir-nos com suas tentações a menos que o permitamos e cedamos em nosso coração (...) O diabo não tem poder sobre nós a menos que o permitamos” [6]
O Presidente Faust também testificou:
"Não precisamos ficar paralisados por medo do poder de Satanás. Ele não tem poder sobre nós, a menos que o permitamos. Na verdade, ele é covarde, e se ficarmos firmes, ele recuará. O Apóstolo Tiago aconselhou: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4:7). Ele não consegue ler nossos pensamentos, a menos que os expressemos com palavras. Néfi disse que o diabo “não tem poder sobre o coração” das pessoas justas (1 Néfi 22:26).  Ouvimos comediantes e outras pessoas justificarem ou explicarem suas más ações, dizendo: “O diabo me induziu”. Não creio que o diabo consiga realmente nos induzir a fazer coisa alguma. Sem dúvida ele pode tentar e enganar, mas não tem autoridade sobre nós, a menos que o permitamos." [7]

QUANDO E COMO SATANÁS SE APOSSA
O tipo de possessão demoníaca retratada em filmes e pela cultura popular em geral é extremamente raro. As escrituras mencionam esses eventos não tão corriqueiramente. Moisés, confrontou Satanás face a face (Moisés 1). Paulo expulsou um espírito de adivinhação (Atos 16)  e Joseph Smith expulsou um demônio - realizando o primeiro milagre da Igreja, após ser organizada nesta dispensação [8]. Mas apesar dos notáveis exemplos, eles são, se levarmos em consideração outros tipos de milagres, raros.
Satanás, apesar de ficar feliz de experimentar um corpo físico, ainda que temporariamente, como já falamos acima, talvez esteja mais interessado em enganar-nos e conduzir-nos cuidadosamente para o inferno, do que revelar-se de modo tão assustador. Uma de suas táticas mais bem sucedidas é dizer que o diabo não existe (2 Néfi 28:21–22). Sobre isso a Primeira Presidência escreveu:
“Ele trabalha tão bem disfarçado, que muitos não o reconhecem, nem a seus métodos. Não existe crime que não cometa, nem devassidão que não invente, nem praga que não envie, nem coração que não despedace, nem vida que não tome ou alma que não destrua. Vem como o ladrão à noite; é um lobo disfarçado em pele de cordeiro” [9].
Assim, parece claro que, a não ser em raras ocasiões, Satanás não se manifestará de modo a adentrar em um corpo. Sobre isso o nosso articulista e amigo Luiz Botelho, em seu blog Interprete Nefita, disse:
"Para ser sincero, acredito que possessões literais - onde um filho de perdição literalmente toma e controla o corpo físico de um indivíduo - são extremamente raras. Não tenho certeza se de fato há necessidade de "possessão" para que tais espíritos alcancem seus desígnios. Pessoas que degeneram no pecado passam automaticamente a agir como demônios agiriam (...). Dessa forma, não é preciso possessão literal para de certa forma estar "possuído" e agir como eles agiriam.
Samuel, o Lamanita anteviu o destino dos nefitas: ele disse que o povo se expressaria da seguinte maneira:
"Oh! Se nos houvéssemos arrependido no dia em que o Senhor nos enviou sua palavra!(...) Eis que estamos circundados de demônios, sim, estamos rodeados pelos anjos daquele que procurou destruir nossa alma. Eis que são grandes as nossas iniquidades. Ó Senhor, não podes apartar de nós a tua ira?" (Helamã 1:36-37)
Samuel então dá a lição:
"Mas eis que vossos dias de provação se passaram; procrastinastes o dia de vossa salvação até que se tornou, para sempre, demasiado tarde; e vossa destruição é certa; sim, porque durante todos os dias de vossa vida buscastes aquilo que não podíeis obter; e buscastes felicidade na iniquidade, o que é contrário à natureza daquela retidão que há em nosso grande e Eterno Cabeça." (Helamã 1:38)
Assim aprendemos que ficamos "circundados de dêmonios" quando buscamos felicidade na iniquidade. Muitas vezes Satanás e seus servos não precisam dominar nossos braços e pernas para nos tornar tão miseráveis como eles são. Basta que utilizemos nosso arbítrio para lhe dar “poder para escravizar-[nos]” (2 Néfi 2:27, 29).
O Presidente David O. McKay afirmou:
“Satanás vos tentará no ponto mais fraco e procurará obter sua vitória; e, se vos sujeitardes, ele contribuirá para vos tornar mais fracos ainda.” [10]
Certamente o uso de drogas são um convite para que Satanás nos manipule, em maior ou menor grau. O Elder M. Russell Ballard disse:
"Os pesquisadores dizem que existe um mecanismo em nosso cérebro chamado de “centro de prazer”. Quando ativado por certas drogas ou ações, ele se sobrepõe à parte de nosso cérebro que governa a força de vontade, o discernimento, a lógica e a moral. Isso leva o viciado a abandonar aquilo que sabe ser certo. Quando isso acontece, a pessoa foi fisgada e Lúcifer assume o controle.
Satanás sabe como nos capturar fazendo uso de substâncias artificiais e ações que nos dão prazer temporário. Já observei o impacto disso ao ver como é dura a luta para recobrar o controle, libertar-se dos vícios destrutivos e recuperar a autoestima e a independência." [11]
Outra maneira é procurar as trevas em credos e seitas diabólicas - que são práticas iníquas:
"O único caminho seguro é manter-nos bem distante dele e de quaisquer de suas atividades iníquas e práticas depravadas. Os males do culto ao diabo, da feitiçaria, da bruxaria, do ocultismo, dos encantamentos, da magia negra e todas as outras formas de demonismo devem ser evitados como praga” [12]


CONCLUSÃO
Satanás é "um ser real do mundo invisível" (JS-H 1:16). Ele se seus seguidores estão constantemente procurando nossa destruição. Eles não possuem um corpo, e em certas ocasiões conseguem se apossar de corpos mortais. Porém, Satanás e seus servos não podem entrar em nosso corpo a menos que os permitamos. Isso acontece quando preferimos trevas em vez de luz, quando pecamos e persistimos no pecado.
O Sacerdócio de Melquisedeque tem o poder de expulsar dêmonios. Isso aconteceu no passado e acontece hoje. Porém, o Senhor não deseja que falemos sobre esse tipo de experiência [13].
Não devemos subestimar Satanás [14]. Precisamos confiar em Deus. O diabo não precisa adentrar em nosso corpo para fazermos mal. Élder ElRay L. Christiansen disse:
“Satanás conhece todos os ardis. Ele sabe onde somos suscetíveis às tentações e como nos incitar a fazer o mal. Ele e seus anjos nos sugerem o mal, diminuem a gravidade do pecado e o tornam convidativo" [15]
Não precisamos temer. Deus esta no controle e nos protegerá. Se Satanás nos tentar ou se nos vermos em um condição rara de possessão demoníaca, devemos confiar em Deus, estar armados com retidão - tendo jejuado e orado. Os portadores do sacerdócio terão, então, autoridade para expulsar o demônio, em nome de Jesus Cristo. Temos a seguinte garantia:
“Quando desafiado, Satanás se zanga, como fez com Moisés. Ele gritou, tremeu e afastou-se de Moisés, que permaneceu inflexível (…). Não havia mais nada que ele pudesse fazer. Ele tem de partir quando dizeis: ‘Afasta-te de mim, Satanás.’ Toda alma mortal é mais forte que Satanás, se essa alma for resoluta.” [16]

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NOTAS
[1] "As Forças que nos Salvarão", A Liahona, Janeiro de 2007, pg. 3
[2] Falando sobre o Ministério de Cristo e a expulsão de demônios, o Elder James E. Talmage disse:
"Na época do ministério terreno de nosso Senhor, a cura dos cegos, surdos ou mudos era considerada como uma das maiores realizações que se poderia alcançar através da ciência médica ou tratamento espiritual; e a sujeição ou expulsão de demônios encontrava-se entre os feitos impossíveis ao exorcismo rabínico. As demonstrações do poder do Senhor de curar e restaurar, até mesmo em casos universalmente considerados incuráveis, resultaram na intensificação da hostilidade por parte das classes sacerdotais. E estas, representadas pelo partido fariseu, desenvolveram a ridícula e absolutamente inconsistente sugestão de que os milagres eram realizados por Jesus através do poder do príncipe dos demônios, a quem Ele estava ligado.
Durante a Sua segunda viagem missionária pela Galiléia, percorrendo “todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o Evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias”, surgiu a absurda teoria de que Cristo era, Ele próprio, vítima de possessão demoníaca, e que operava pelo poder de Satanás, teoria essa que se expandiu de tal forma a tornar-se a explicação aceita pelos fariseus e os de sua classe. Jesus afastara-Se durante algum tempo dos centros mais populosos, onde era constantemente vigiado por emissários enviados de Jerusalém à Galiléia, pelas classes dirigentes, pois os fariseus conspiravam contra Ele, buscando uma desculpa e uma oportunidade para matá-Lo. Mas mesmo nas cidades menores e distritos rurais, Ele era seguido e assediado por grandes multidões, a quem administrava, aliviando tanto males físicos quanto espirituais.
Logo após Seu retorno da viagem missionária a que noş referimos, os fariseus encontraram uma desculpa para criticá-Lo, quando curou um homem que se encontrava sob a influência de um demônio, e que era cego e mudo. Essa combinação de aflições, que afetava o corpo, a mente e o espírito, foi afastada, e o homem que não enxergava e não falava ficou livre desse triplo fardo.w Diante desse triunfo sobre os poderes malignos, o povo maravilhou-se ainda mais e disse: “Não é este o filho de Davi?” — em outras palavras: Pode ser este outro senão o Cristo que vimos esperando há tanto tempo? O julgamento popular, assim expresso, enfureceu os fariseus, que disseram ao povo, já quase em adoração: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.” Jesus recebeu a acusação malévola e respondeu a ela, não com ira, mas em termos de calmo raciocínio e sólida lógica. Estabeleceu o fundamento de Sua defesa, declarando a verdade evidente de que um reino dividido contra si mesmo não pode subsistir, mas forçosamente se despedaça. Se aquela suposição tivesse o menor fundamento de verdade, Satanás, através de Jesus, estar-se-ia opondo a Satanás. Depois, referindo-se a práticas supersticiosas e aos exorcismos da época, pelos quais alguns efeitos, classificados hoje de curas da mente, eram obtidos, Ele perguntou: “E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam então vossos filhos? Portanto eles mesmos serão os vossos juízes”. E para tornar a demonstração mais clara usando contraste, continuou: “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus”. Aceitando qualquer das proposições, e certamente uma era verdadeira, pois o fato de que Jesus expulsava demônios era conhecido em toda a Terra, sendo confirmado pelos próprios termos da acusação que agora pronunciavam contra Ele, os fariseus acusadores estavam vencidos e condenados.
Mas a ilustração prosseguiu: “Ou, como pode alguém entrar em casa do homem valente e furtar os seus bens se primeiro não manietar o valente, saqueando então a sua casa?” Cristo havia investido contra o baluarte de Satanás, enxotado seus espíritos malignos de tabernáculos humanos dos quais eles se haviam apossado injustificavelmente; como poderia tê-lo feito, se não tivesse primeiramente subjugado o mais forte, o senhor dos demônios, o próprio Satanás? E ainda, aqueles letrados ignorantes atreviam-se a dizer, diante de uma refutação tão evidente às suas próprias premissas, que os poderes de Satanás eram subjugados por meio de ação satânica. Não podia existir qualquer acordo, qualquer trégua ou armistício entre as forças contendoras de Cristo e Satanás. Sugerindo aos Seus acusadores que exercessem um autojulgamento, para que pudessem decidirse de que lado estavam, Jesus acrescentou: “Quem não é comigo, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.” (Jesus, o Cristo, Capítulo 18)
 [3] Satanás tem certo poder, e o concede a seus seguidores.
Lemos nas escrituras que Satanás era chamado de Lúcifer, a estrela da manhã (Isaías 14:12). Esse título sagrado foi usado como um dos nomes do Senhor Jesus Cristo (Apocalipse 22:16). Estrela da manhã sem dúvida refere-se a uma posição de autoridade, liderança e poder. Sabemos que o sacerdócio, que é o poder de Deus, foi conferido na pré-mortalidade a Seus filhos (Alma 13:2-9). Sabemos que Lúcifer possuía o sacerdócio, e ainda o desfruta (Lucas 10:19, II Tessalonicenses 2:9, Alma 12:17). Evidentemente não é o sacerdócio de Deus, o qual se opera somente pelos princípios da retidão (D&C 121:36-37).
Os magos do Egito conseguiram imitar vários dos milagres realizados por Moisés - mas certamente não pelo poder de Deus. O Presidente Joseph Fielding Smith, quando era Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, explicou: “Em todas as eras e em quase todos os países, os homens exerceram grandes poderes ocultos e místicos, chegando até a curar os enfermos e realizar milagres. Havia encantadores, mágicos e astrólogos na corte dos antigos reis. Eles tinham certos poderes pelos quais prediziam o futuro e resolviam para o monarca os seus problemas, sonhos, etc. (…) O Salvador declarou que Satanás tinha poder de tomar o corpo de homens e mulheres e afligi-los duramente. [Ver Mateus 7:22–23; Lucas 13:16.] (…) Devemos lembrar que Satanás tem grande conhecimento e por isso pode exercer autoridade e até certo ponto controlar os elementos, quando não há a intervenção de um poder maior”. (Answers to Gospel Questions, 5 vols, 1957, 1:176, 178.)
Nesse ponto é instrutivo lembrar que "o poder do diabo é limitado, o poder de Deus é infinito" ("O poder do mal", Discursos de Brigham Young, pg. 69). O diabo tem apenas o poder, como ensinou o Presidente Brigham Young, para queimar, destruir, enquanto Deus tem o poder para organizar, construir e salvar "O poder do mal", Discursos de Brigham Young, pg. 70). O diabo "não persuade quem quer que seja a fazer o bem; não, ninguém; tampouco fazem seus anjos; nem o fazem os que a ele se sujeitam." (Morôni 7:17). Assim, o aparente "bem" que vem do diabo, é na verdade mal disfarçado.
Presidente Joseph Fielding Smith ensinou que muitas manifestações provêm de Satanás: "Desde a queda do homem até agora, Satanás e seus seguidores que foram expulsos dos céus, têm enganado os homens. Hoje em dia, como no princípio, Lúcifer está dizendo: 'Eu também sou um filho de Deus (...) acreditem ou não', e a humanidade atual não crê, pela mesma razão que se recusou a acreditar no princípio. 'Alguns mandamentos são dos homens', informou o Salvador a Joseph Smith (D&C. 46:7) (...) Há mandamentos que são de diabos, os quais se manifestam amplamente através das atividades dos homens (...) Estes falsos espíritos se apresentam de várias maneiras em todas as comunidades. Algumas das formas mais surpreendentes e comuns de falsas manifestações encontram-se nos falsos dons de línguas, e nas reuniões religiosas, principalmente entre algumas seitas, em que os adoradores caem em transe, gritam, cantam e oram de maneira desordenada, às vezes pondo espuma pela boca e contorcendo-se de maneira anormal" (Church History and Modem Revelation, vol. I, p. 200)
[4] “Servir ao Senhor e Resistir ao Diabo”, A Liahona, novembro de 1995, p. 10
[5] Citado por William Clayton, relatando um discurso não datado proferido por Joseph Smith em Nauvoo, Illinois; L. John Nuttall, “Extracts from William Clayton’s Private Book”, p. 7, Diários de L. John Nuttall, 1857–1904, L. Tom Perry Special Collections, Universidade Brigham Young, Provo, Utah; cópia nos Arquivos da Igreja.
[6] Ensinamentos: Joseph Smith, p. 223
[7] "As forças que nos salvarão", A Liahona, Janeiro de 2007, pg. 3
[8] O seguinte relato foi extraído do livro História da Igreja na Plenitude dos Tempos:
No final de abril, Joseph Smith visitou Joseph Knight Sênior, em Colesville. Joseph relatou: “O Sr. Knight e sua família mostraram interesse em discutir assuntos religiosos comigo e foram sempre cordiais e hospitaleiros. Realizamos várias reuniões na vizinhança com vários amigos e alguns inimigos, e muitos começaram a orar fervorosamente ao Todo-Poderoso, pedindo sabedoria para compreenderem a verdade”.
Uma das pessoas que sempre esteve presente às reuniões foi Newel Knight, grande amigo do Profeta. Newel Knight tinha receio de orar, mas acabou aceitando o persuasivo desafio do Profeta de orar na reunião seguinte. Quando chegou o momento, Newel pediu para ser dispensado, prometendo que iria orar mais tarde em particular. Na manhã seguinte, foi a um bosque e tentou orar, mas não conseguiu, porque sentia-se culpado por não ter aceitado orar em público. O Profeta disse que Newel começou a sentir-se mal “e continuou a sentir-se cada vez pior, tanto mental quanto fisicamente, até que ao chegar a sua casa, sua expressão deixou a esposa muito preocupada. Ele pediu que ela fosse chamar-me. Fui até lá e vi que ele estava sofrendo muito, e seu corpo executava movimentos muito estranhos; o rosto e os membros contorciam-se de todas as maneiras possíveis; por fim, seu corpo foi erguido do chão da sala e arremessado de um lado para o outro, de modo extremamente assustador”.
Os vizinhos e parentes reuniram-se para ver o que estava acontecendo. Joseph conseguiu a muito custo agarrar a mão do amigo. Newel disse que sabia estar possuído pelo diabo e que Joseph tinha poder para expulsá-lo. Por meio de sua fé e a de Newel, Joseph ordenou, em nome de Jesus Cristo, que o diabo fosse embora. “Newel imediatamente declarou ter visto o diabo sair dele e desaparecer. Esse foi o primeiro milagre realizado na Igreja e não foi realizado pelo homem nem pelo poder do homem, mas por Deus e pelo poder da divindade”. A expressão do rosto de Newel Knight voltou ao normal e seu corpo relaxou. (pg. 69)
Mais tarde Joseph Smith foi preso e acusado falsamente. Newel Knight foi chamado a depor.
"O Sr. Seymour, um promotor muito interessado em atacar o Mormonismo, interrogou-o a respeito do incidente em que o diabo fora expulso de seu corpo:
“‘E Joe Smith teve qualquer participação nesse incidente?’
‘Sim, senhor.’
‘Foi ele que o expulsou de seu corpo?’
‘Não, senhor; foi o poder de Deus. Joseph Smith serviu de instrumento nas mãos de Deus para isso, ordenando ao diabo que saísse de mim em nome de Jesus Cristo.’
‘E tem certeza de que era o diabo?’
‘Sim, senhor! Eu o vi.’
‘Quer ter a gentileza de dizer-nos como ele se parecia?’
A testemunha replicou: ‘Não creio que eu precise responder a sua última indagação, mas o farei, se me permitir primeiro fazer-lhe uma pergunta e depois ouvir sua resposta: Sr. Seymour, compreende as manifestações do espírito?’
‘Não’, respondeu ele, ‘não tenho qualquer pretensão de entender coisas tão grandiosas’. 
"Bem, então’, replicou Knight, ‘de nada adiantará dizer-lhe como se parecia o diabo, pois foi uma visão espiritual, que discerni espiritualmente, e é óbvio que o senhor não a entenderia se eu lhe relatasse’.
O advogado abaixou a cabeça, enquanto a audiência caía em gargalhada, ao perceber seu embaraço (...).
(...) O Profeta foi novamente absolvido (...)" (pg. 72)
[9] James R. Clark, comp., Messages of the First Presidency of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints,6 vols., 1965–1975, volume 6, p. 179.
[10]  “As Tentações da Vida”, A Liahona, novembro de 1968, p.3.
[11] "Quão Astuto é o Plano do Maligno", A Liahona Novembro de 2010.
[12] “As Forças Que Nos Salvarão”, A Liahona, janeiro de 2007, p. 3
[13] Além das escrituras mencionadas no corpo do artigo, que nos ajudam a entender que o exorcismo não é um tema para conversas cotidianas, o Manual do Sacerdócio Aarônico 2 (1993) esclarece ao Consultor de jovens:
"Os rapazes devem compreender que Satanás é um ser real, mas não devem falar muito a respeito dele, nem comentar as experiências que tiveram com os poderes do mal. Evite debater a respeito do ocultismo. Se os rapazes mencionarem assuntos tais como mesas Ouija, aparições, espiritismo ou adoração do diabo, você deverá dizer-lhes que esses são métodos utilizados por Satanás e que fomos aconselhados a jamais nos envolvermos com tais coisas."
[14] “Uma das coisas que leva os jovens a se meterem em dificuldades, e isto eu aprendi trabalhando com eles toda a minha vida (…) é não levar Satanás a sério. Ele tem grande poder e, quando não nos conscientizamos disso, quando sentimos que podemos resolver nossos problemas sozinhos, é aí que podemos nos meter em dificuldades.” (William H. Bennett, Conference Report, Conferência de Área da Nova Zelândia, 1976, p. 14.)
[15] “Q and A”, New Era, julho de 1975, p. 49.
[16] Spencer W. Kimball, “The Blessings and Responsibilities of Womanhood”,Ensign, março de 1976, p. 71

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Com grande tristeza, durante a última sessão de Conferência Geral de outubro de 2017, recebemos a notícia de que Élder Robert D. Hales falecera. O Élder Robert D. Hales foi apoiado como membro do Quórum dos Doze Apóstolos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no dia 2 de abril de 1994. Desde então, tem discursado durante as Conferências Gerais. Revi seus discursos que se encontram no site da Igreja , e relembrei com gratidão seus muitos ensinamentos. Porém, entre todos os seus discursos, há quatro que se destacam. Evidentemente se destacam pra mim. Talvez, se vocÊ tivesse que escolher quatro discursos - entre todos os dados pro Élder Hales, escolheria outros. Ainda assim, permita-me apresentar os meus favoritos: Ser um Cristão mais cristão No primeiro discurso , dado na Conferência Geral de Outubro de 2012, o Élder Hales ensina o que significa ser um verdadeiro cristão. Ele também diz o que significa tomar sobre nós o nome de Cristo. Ele explic